sábado, 29 de setembro de 2007

Carta aberta aos comentaristas de “No país do futebol...”


Caras amigas e amigos, no começo desta semana, diante da belíssima vitória da seleção brasileira de futebol feminino, S. J. C. Silva mais uma vez compartilhou conosco algumas de suas reflexões. Coerente como é de seu costume, esse post recebeu alguns comentários sendo todos positivos, que congratulavam o próprio autor e as atletas vitoriosas.

Dentre esses comentários lá está o meu, que não destoa muito dos demais. Ou pelo menos aparentemente não destoa. Eu também parabenizei as jogadoras e nisso concordamos em aparência e essência. No entanto, quanto aos méritos do autor, fiquei com a ligeira impressão de que o mesmo não foi plenamente compreendido. Como já aconteceu comigo, aqui mesmo, em ocasiões passadas.

Sávio, a meu ver, está de parabéns por ter usado, genialmente, o episódio da conquista esportiva como ILUSTRAÇÃO para NÃO DEIXAR PASSAR EM BRANCO essa ótima oportunidade de se discutir várias GRANDES QUESTÕES que as mulheres enfrentam no Brasil de hoje (não só no Brasil e não só hoje).

O texto nos fala de uma grande polêmica, atual em nosso país desde o século XIX, que é a legalização do aborto. Uma questão que tem em sua espinha dorsal a questão de gênero, tanto é que o atual e atuante ministro da saúde do Brasil, em sua empreitada para pelo menos trazer esse tema à tona, não usou de meias palavras ao afirmar que: “se homem engravidasse, seria a favor do aborto”.

O texto também falou da diferença brutal entre a remuneração salarial entre homens e mulheres. Ponto muito pertinente, principalmente quando temos novos números, de novas pesquisas, apontando velhas opressões. Ainda que ajam avanços.

O texto também falou de discriminação nua, crua e cotidiana, que mais da metade da população brasileira sofre, não só por parte do outro como pelos seus.

O texto ainda fala do papel da mulher na política brasileira. Fala da importância da participação e representação feminina nas instâncias do poder. Fala da fundamental atuação dentro de campo, da Marta (não a do futebol, mas nossa ministra do Turismo), se não como real candidata, ao menos como nome expressivo que disputa a candidatura à presidência de república de um dos maiores partidos do país; e de um partido progressista, vale pontuar, o que faz desta algo muito distante da candidatura Roseana/2002. Só a disputa já é um acumulo.

E o texto não falou, mas poderia ter falado de jornada tripla, de violência doméstica, de sexualização publicitária, de prostituição (infanto-juvenil ou não), das crianças monoparentais, e outros e outros temas que as comentaristas poderiam enumerar com muito mais propriedade do que eu.

Não falou, mas tudo isto está lá. A discussão foi lançada e a oportunidade não deve ser desperdiçada. Não concordo com que deixemos o post, de nosso colega, passe como apenas mais um festejo passageiro, como vimos muitos outros, de uma conquista individual ou de um pequeno e seleto grupo.

É uma conquista sim. Marta, suas colegas e todas as brasileiras, têm que se orgulhar sim. Mas como disse o autor “que esse orgulho sirva (infelizmente) para expor, ainda mais, o caráter machista do brasileiro”.

Anexo I

Considerando as críticas e observações em "off" de meus colegas de blog;

considerando que a preguiça, ao fazer um post sem um texto esclarecedor, pode ter-me feito construir uma posição ambígua e;

considerando que é de meu total interesse explicitar minhas opiniões;

venho através deste, dizer com todas as letras que:

não estou cansado pelos mesmo motivos que o "Movimento Cansei";

sou contra o movimento "sou contra a CPMF" e;

minhas vaias não ecoam no mesmo sentido que as do "Movimento Grande Vaia".

E ainda dizer que, minha intensão com esse post preguiçoso era somente provocar a reflexão sobre a evolução de desenvoltura que a direita vem apresentando no decorrer desses tempos.
Uma oposição que pode ser dividida em três momentos:

momento I: da primeira posse de Lula à aparição de Roberto Jefferson.
uma EX-eterna-posição atônita e desconcertada, muito pela falta de prática.

momento II: De Jefferson ao Caos aéreo.
A mídia conservadora (e golpista!), macaco velho, desempenha com admirável desembaraço o papel de oposição, antes e melhor que outros setores.

momento III: pós tragédia da TAM
(momento atual e o qual o post tentou evidenciar)
Diversos setores da direita, nominalmente empresariado, congressistas e a mídia, partem numa agressiva tentando ganhar espaço na opinião pública, com manifestações pseudo-populares, que apelam para a comoção sobre a desinformação.

É isso.

Este texto ja foi postado como comentário.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Cobra criada nunca será cachorro morto!

"comecei a pensar
que eu me organizando
posso desorganizar"

(Chico Science, que me perdoe!
E não deu pra aproveitar
mais nada da letra)


17/08/2007 - Movimento Cansei

5 mil pessoas, segunda o OAB, se se reuniram na Praça da Sé para fazer um minuto de silêncio pelo direito dos brasileiros.


11/09/2007 - Sou Contra a CPMF

Fiesp entrega à Câmara 1,1 milhões de assinaturas contra a prorrogação do imposto.


29/09/2007 - Movimento Grande Vaia


Organização promete uma mobilização nacional, pela ética e pela moral, no próximo dia 29.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

No país do futebol....


No país do futebol hoje é dia de alegria. A seleção feminina venceu a semi-final da copa do mundo, 4 x 0 nos Estados Unidos. Agora disputaremos a grande final contra a Alemanha. E não foi um jogo normal. Marta, a melhor jogadora do mundo, só faltou fazer chover. Fez gol de pé esquerdo, de pé direito, sambou na frente da adversária, deu passes lindos e pra coroar fez uma pintura. O último gol do Brasil foi gol de Pelé, não melhor foi gol de Marta! Indescritível, só vendo. É um daqueles pra se admirar por muito tempo, e nunca esquecer.


Podia ser uma notícia normal, um fato corriqueiro, afinal não somos o país do futebol? Sim, mas do futebol masculino, do vôlei masculino, do basquete masculino, da política masculina, do jornalismo masculino, da televisão masculina, do empresariado masculino e por aí vai. Emoções do futebol como as de hoje tem que ser ainda mais comemoradas, já que as mulheres não têm incentivos, ganham mal, tem na maioria das vezes que conciliar outro trabalho e sequer tem um campeonato nacional. São verdadeiras guerreiras, heroínas. Aliás um perfil da mulher brasileira. Então que nos orgulhemos do futebol feminino, mas que esse orgulho sirva (infelizmente) para expor, ainda mais, o caráter machista do brasileiro.


As mulheres são a maioria da população, ainda assim chegam a ganhar até 40% a menos (ainda mais se forem negras) do que os homens em um mesmo cargo. Tem restrições no mercado de trabalho. Sofrem preconceito da hora que acordam a hora que vão dormir, do carro, passando pelo fogão e pela piadinha sem graça e ofensiva do patrão. Não são reconhecidas como chefes de famílias, não são reconhecidas como mães. Aliás, a sociedade as impõe que mesmo sem sua vontade ou sem ter condições, que sejam mães.

A legalização do aborto talvez seja uma das maiores bandeiras feministas. Ser a favor da legalização, da descriminalização, não significa ser a favor do aborto. Significa compreender este fato como uma questão de saúde pública, de saúde da mulher, sem discursos moralistas e religiosos. Ignorar isso é ser complacente com as milhares de mortes decorridas de operações clandestinas, de “profissionais” incapazes. O aborto é uma realidade brasileira há muito tempo. Mas quem são as mulheres que morrem em mesas de clínicas ocultas? Não precisa nem pensar muito, evidentemente as pobres. Porque as ricas têm totais condições de pagar um excelente hospital particular na zona sul, aonde as leis não chegam como nos demais lugares. Por isso certamente o descaso e a cumplicidade com o problema.


Além de direitos as mulheres brasileiras exigem respeito. Respeito que com uma luta de muitos anos elas tentam alcançar. Respeito que algumas poucas, por atitudes individuais, conseguiram. Mas isso não basta. Enquanto o orgulho for só por uma seleção de futebol ou por uma ginasta olímpica a conscientização do papel da mulher da sociedade não será revisto. Que estas apareçam muito mais, rompam com paradigmas, quebrem estruturas e façam valer sua voz. Eu queria a Marta no meu time, mas queria também mais mulheres no parlamento, mais mulheres nos ministérios, uma chefe mulher e quiçá, logo logo, uma mulher na Presidência da República.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Escola pra quê?



Entrou em vigor um decreto do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), onde os alunos de 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino fundamental ganham premiações em dinheiro dependendo do seu rendimento escolar. Os valores são calculados entre dois e doze salários mínimos, podendo chegar então a R$ 4560,00 no final dos três anos. As gratificações são correspondentes aos conceitos “Muito Bom” conseguidos pelos alunos. Além do dinheiro os estudantes também terão prioridade em futuros estágios na prefeitura. O sindicato de professores questiona o decreto, ou seja, ai vem polêmica, e das boas.


A prefeitura alega que esta é uma medida para diminuir a evasão escolar, o sindicato contrapõe dizendo ser mais uma posição para incorporar o sistema de progressão automática, da qual os professores são contrários. Extrapolemos estes dois pontos, sem é claro nega-los. A primeira questão negativa, a meu ver, é o incentivo da competição entre crianças. Não é justo incitar meninos e meninas de 12 a 15 anos a uma competição constante da qual, muita das vezes, o sustento de suas casas estará em jogo. Muitos podem dizer que o mundo atual é competitivo, que é individualizado. Por mais que eu seja contrário a isso negar essa situação, infelizmente, não é real. Mas justamente por isso a escola deve ser o lugar de romper este status. Para conseguir romper com essa individualidade o caminho passa, necessariamente, pela escola. Os estudantes devem aprender a trabalhar em conjunto, se organizar em sociedade, praticar a solidariedade e prezar, sempre, a igualdade. Utópico? Pode até ser, mas não no sentido de utopia como inalcançável, é sim no sentido de sociedade a ser desejada, seja qual for o caminho. Claro que nesse caso o caminho é árduo, mas colocar estas crianças em mais uma disputa contínua não contribui em nada para tal, ainda mais com dinheiro em jogo.


Como sabemos a maioria dos pais que tem filhos em escolas municipais do Rio vivem em difícil situação financeira. Este repasse pode gerar uma cobrança excessiva destes pais com os estudantes, transferir a responsabilidade econômica do lar para estes, e devido a pouca estrutura familiar (em alguns casos) incitar a violência em caso de um “não sucesso” do filho. A pressão para estas crianças será muito grande, extrapola o que podemos entender por incentivo. É uma maneira de antecipar a forte pressão que sofrem os alunos do Ensino Médio, por causa do vestibular ou do mercado de trabalho, para o Ensino Fundamental.


O que diminui evasão escolar é o interesse do estudante com a escola e a condição de sua família se manter sem que as crianças trabalhem. É fazer entender que uma boa base escolar é imprescindível para, quando adultos, conseguirem um bom trabalho e levar uma vida melhor. O dinheiro destinado aos “prêmios” seria mais bem investido na estrutura das escolas, na preparo e salários dos professores e em programas sociais que proporcionasse a família do aluno a ter trabalho e conquistar sua autonomia. Mas será que estes valores dos “prêmios” seriam suficiente para tudo isso? Pode até ser que não. Mas o que questiono não são os valores, e sim o projeto, a concepção de educação, as prioridades.


O abismo existente entre escola privada elitizada e escola pública pobre, pode ter mais um elemento. Na própria escola pública haveria sua elite. Não que isso não ocorra, mas a partir de então essa discrepância seria uma política pública de Estado. Isolar, em seu próprio meio, os que valem a pena o Estado investir e os que não valem. Além do sistema e da sociedade capitalista selecionar seus privilegiados, selecionam também os privilegiados entre os menos favorecidos. Muito complexo não? Nunca esquecendo, sendo repetitivo, que estamos falando de crianças. Não acredito que tudo isso não foi levado em conta pelos formuladores de tal medida. Pelo contrário, como pessoas muito inteligentes que são (por exemplo, o prefeito) me fazem pensar que tudo isso foi analisado, e justamente por incentivar esse individualismo, essa competição, o separatismo e a pressão essas medidas foram adotadas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Censura!


Vivemos em uma democracia. Até que ponto? Erroneamente achamos que o período ditatorial a pouco vivido está superado, mas não é bem assim. Um exemplo é a censura. Claro que os meios mudaram, na ditadura militar era uma política de governo, que impunha aos meios de comunicação (pelo menos a aqueles poucos que eram contrários ao regime) as informações e pontos de vista que eram passados para a sociedade, privando (dificultando) essa de formar sua opinião. Hoje ainda existe a censura, embora com os mesmos objetivos usando outra lógica. Os meios de comunicação (a maioria) trazem (ou escondem, depende do interesse) informações tendenciosas, contrárias ao governo, e com objetivo de manipular a população. Quando uma ferramenta que não é a mídia opta pela formação e informação ela não se contém: censura.

Essa reflexão, que pode ser generalizada, tem um fato específico. No jornal O Globo de 18/09/2007 o jornalista e diretor executivo da Rede Globo Ali Kamel escreve um artigo questionando o livro didático Nova História Crítica, da editora Nova Geração e de autoria do historiador Mário Schmidt. Questiona não, censura. Qualificando como “ridículo manual de catecismo marxista” Kamel além de ignorar o conteúdo da obra a desqualifica. Usa um dos meios de comunicação de mais abrangência do país para fazer uma campanha explícita contra o livro. Isso porque a obra não é mais um manual de história conservador, segue o caminho oposto, tenta trazer sempre o aluno a reflexão e aborda diferentes pontos de vista.


Nova História Crítica é amplamente adotado na 8ª série do ensino fundamental. Os professores, com a autonomia que tem, reivindicaram ao MEC que o livro fosse um dos que o ministério disponibilizasse aos alunos. Além de conspirar contra a editora e o autor do livro, Ali Kamel desrespeita a soberania e autonomia dos profissionais da educação. Querendo que o catecismo fosse em outro rumo assina um atestado de arrogância ao achar ser superior aos demais, interferindo diretamente em assuntos que não são de sua competência.


Aliás, mesmo os que deveriam ser de sua alçada não desempenha com louvor, muito pelo contrário, não tem escrúpulos, ética e comprometimento com a verdade. Quem não se lembra de seu artigo racista contra as cotas em universidades? Conheço algumas pessoas contrárias as cotas, apesar de ser totalmente a favor não questiono (nesse momento) os méritos, e sim os argumentos. A versão mais moderna da censura brasileira usa a credibilidade (totalmente questionável) de um grande jornal para desqualificar um livro didático. Uma lógica minuciosamente elaborada, que pega a base do problema. Afinal são os mesmos alunos de 8ª série que estudam com um livro que questiona e propõem a crítica que no futuro próximo serão os leitores dos jornais. Tendo uma boa formação em sua base não serão expectadores passivos de uma imprensa rancorosa, covarde e golpista como a de hoje. Terão todas as condições de tirar suas próprias conclusões, princípio inaceitável a censura. Sabendo disso a direita não tem dúvida, corta pela raiz. Leva-nos a crer que gostaram da experiência, quem ontem foi censurado censura hoje.


A nota da editora Nova Geração e do historiador Mário Schmidt que comenta o artigo de Kamel foi publicada no sítio do PT. Para ler na íntegra clique aqui.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Notícias de uma guerra pública


"Homem de preto, qual é sua missão?
Entrar pela favela e deixar corpo no chão.
Homem de preto, o que é que você faz?
Eu faço coisas que assustam o satanás

(Coro cantado pelos policiais do filme. De ficção)

O site oficial do novo filme de José Padilha, Tropa de Elite, anúncia a estréia nos cinemas no dia 12 de outubro. No entanto uma versão do longa já foi massivamente divulgada através de pirataria e internet. O caso chama a atenção particularmente pela pirataria ter sido acompanhada de seqüestro da equipe produtora e roubo das cenas, ainda não editadas, o que sustenta a tese de que o filme que está em circulação não teria sido finalizado e não seria, portanto, a versão “oficial”.

Pano pra manga, só este parágrafo nos dá pelo menos uma meia dúzia de assuntos polêmicos a serem seriamente debatidos. Isso porque ainda não chegamos ao conteúdo do roteiro. E é justamente sobre ao que o filme fala que vou me prender, a meia dúzia fica pra próxima.

Tropa de Elite (a edição disponível) expõe – através do drama pessoal de um comandante do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (BOPE) que quer deixar o cargo, dentre outras coisas pela paternidade, e precisa, para tanto, preparar um substituto a altura – a complexa trama que se estabelece entre PM, BOPE, traficantes, sociedade “do morro” e sociedade “do asfalto” quando uma situação de extrema desigualdade social como a brasileira desemboca em quadros de violência e narcotráfico como no Rio de Janeiro.

O diretor afirma, segundo o site da Globo, não ter gostado da edição disponível. Penso que se Padilha conseguir mostrar mais do que já foi visto terá em mãos uma grande obra. Só o material que já está circulando já merece os parabéns. Tanto os produtores, como os editores, sejam eles quem for.

O filme é denso, aborda diversos pontos e provoca o tempo todo. Fala de violência, corrupção e tortura em instâncias muito mais próximas e cotidianas que costuma-se falar, de modo que incomoda uma sociedade que está acostumada a só se incomodar quando o problema bate à sua porta. E verdadeiramente, o problema está em nossas portas.

Faz perguntas que geralmente não são feitas e que por isso não se chega a respostas. Mas, mais que isso, mostra que mesmo quando nos perguntamos e buscamos estas respostas, esse caminho já não é tão fácil ou tão curto. Sem caricaturizações ou sensacionalismo, o filme tenta passar que o problema é extremamente complexo e delicado.

Assistam. Recomendo. Se não gostarem do filme, que pelo menos desgostem da realidade em que ele se baseia.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Por quê Voz Chinfrim?


Recebi a dura missão de escrever meu primeiro post para o blog de opinião mais recente da NET e a primeira coisa a se pensar é o que vou escrever. Como não posso decepcionar os companheiros que são Ponta Firme (ver o primeiro Post do blog) o assunto tem que ser muito interessante. E o que é mais interessante que a nossa incursão na rede (ainda mais pra mim que nem MSN tenho).

Pra falar desse riquíssimo espaço virtual tenho que destacar algumas coisas. PRIMEIRO se você é daquelas pessoas que não tem a menor paciência para discutir a situação do Brasil e do mundo, levar um papo cabeça sobre literatura ou cinema, debater a finco grandes questões políticas, esse blog não é pra você. AGORA se vc já tem um pezinho nestes temas, por favor, vamos transformar mais um cantinho da rede em um grande espaço de debates, esperamos com certeza a sua opinião em todos as nossas postagens. Vale lembrar que este BLOG é antes de tudo uma foto virtual de três amigos, é um Blog de IDENTIDADE, por isso resolvemos soltar nossa VOZ CHINFRIN na NET para que seja escutada do outro lado do computador por todos: conhecidos e desconhecidos.

Pra terminar gostaria de mandar um pequeno recado: MARÍLIA (LILA), apesar de vc não responder meus e-mails eu te adoro mesmo assim. Se cuida ai no Sergipe viu, que nós aqui de Minas estamos bem, tirando a saudade.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Os números do Brasil.



Saíram na semana passada os números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), pesquisa anual do IBGE. O resultado é relativo ao ano de 2006 e comparado à mesma pesquisa de 2005. Vários são os temas abordados, e a melhora dos itens é visível na grande maioria deles. Vamos a alguns números: o emprego com carteira assinada cresceu 4,7%, com o desemprego caindo 8,3%, a renda do trabalhador cresceu 7,2%, acompanhado do aumento da renda média das famílias em 7,6% sendo o aumento da inclusão previdenciária de 3,7%. Em 2005 18,6% dos domicílios tinham computdor, este número passou para 22,4% em 2006. Na área social mais avanços, a mortalidade infantil caiu 1% (foi de 5,6% em 2005 para 4,6% em 2006), o analfabetismo teve redução de 4,2% e o número de estudantes universitários cresceu em 13,2%. Muitos números, algumas conclusões.

A primeira delas, não chega a ser uma conclusão, mas um uma premissa, é que os números são apenas parâmetros e não podem ser levados ao pé da letra. O número, o cálculo, são ciências exatas, e neste caso estamos falando de seres humanos, seres sociais. Confesso, tenho receio de números, embora saiba de sua importância.

Uma conclusão que já era clara e os números evidenciam é que o país melhorou. Impossível desconsiderar isso. E melhorou em camadas específicas da população, as camadas inferiores. Mágica? Não, prioridade. A política tem um princípio básico: a disputa de interesses, que leva a uma palavra chave, prioridades. Isso que incomoda, que causa o repúdio das elites. O Governo Lula é passível de algumas críticas, principalmente no que tange o meio para alcançar os objetivos, mas é difícil criticar suas prioridades relacionando-as com as possibilidades de serem alcanças.

Uma reflexão mais aprofundada poderia discutir se essas mudanças são ou não estruturais, não tenho a pretensão de fazê-la aqui, mas posso deixar uma rápida opinião. Mudanças estruturais podem se dar através das armas ou gradativamente através de prioridades. Eu acredito na segunda. Para isso o princípio de tudo deve ser a autonomia e a soberania do povo pobre desse país, construída na democracia e no fortalecimento e democratização das instituições. A educação política, a consciência de classe só será alcançada no dia que o pobre não depender mais de favores para comer, para se manter (e no caso não entendo bolsa família como favor, mas como política pública necessária), e sim do produto do seu próprio trabalho. Esse primeiro passo acredito ser o mais demorado e doloroso, mas é o baluarte da estrutura. Com ele bem assentado as mudanças mais profundas serão possíveis.

Esse início está engatinhando no Brasil, e tem tudo, a médio prazo, para se consolidar. Isso são prioridades, e prioridades louváveis do Governo Lula, do Governo do PT. Esse processo podia ser menos doloroso, com algumas atitudes mais ousadas, como a regulamentação da mídia, a democratização do judiciário, a baixa nos juros e no superávit primário, o aumento de investimentos na reforma agrária, a revisão das parcerias público-privado e uma pressão maior para aprovar a reforma política, para citar alguns pontos. Não podemos perder estes horizontes de vista. Cabe aos movimentos sociais, as organizações e partidos progressistas sempre tencionar nesse sentido, mas nunca perdendo de vista quem realmente temos que combater.

O Governo inegavelmente constrói uma política de esquerda, negar isso é negar a autonomia e a alta estima do povo brasileiro. Setores que se mascaram em um radicalismo vazio (porque o radicalismo por si não é um mal) não têm a compreensão de um processo de mudança, um processo histórico. Pressionar, contestar, sempre, mas como o objetivo traçado e o discernimento dos agentes e desafios a alcançar.

O PNAD do ano que vem sem dúvida será ainda melhor, basta olhar o orçamento para 2008. Este ano as obras do PAC e os projetos do PDE já estão em execução. O PIB deve crescer na casa dos 5%, e a distribuição de renda tende a aumentar. Os números, apesar de serem números, estão ai para quem quiser ver. Tem muita gente que não quer, para eles eu só lamento....

sábado, 15 de setembro de 2007

Breve reflexão sobre a lógica privatizacionista





  • No começo da década de 90, o Brasil encontrava-se com a estrutura estatal grande, centralizada e um tanto ineficiente. Nada construído da noite para o dia, um processo de mais de meio século.
  • Concomitantemente, ecoava aos quatro cantos do mundo o canto da sereia neoliberal, que condenava a quase toda forma de participação do Estado na economia. Qualquer coisa além de justiça e segurança era tida como sobrecarga do poder público.
  • Fernando Collor e Fernando Henrique, presidentes brasileiros eleitos democraticamente, respondem pela implementação em nosso país dessa, não tão nova, forma de se pensar o Estado.
  • Convencendo a opinião pública, com o discurso fácil de que tudo que esta sob o controle do governo e é ineficiente deve ser privatizado, os anos 90 assistiram ao proclamado (pelo próprio FH) fim da Era Vargas.
  • O setor de telefonia é o exemplo preferido de quem gosta de encher o peito para dizer que funcionalismo público é uma “merda” (com o perdão da expressão, mas a ênfase era indispensável) e só o lucro e a competitividade trazem a eficiência. “Antes não funcionava, e agora funciona.”
  • Um breve parêntese para um “alto lá!”. Com todo respeito aos que penaram para conseguir uma linha telefônica antes da privatização, não podemos, por isso, faltar com o respeito aos que penam hoje com esse sistema desavergonhado que, esse sim, não tem o menor respeito pelos seus consumidores [leia mais em Alô? Alguém aí também odeia a Telefônica? In Caros Amigos, jan/2007]. Isso, é claro, para não falar dos que não podem exercer seu “direito” de ter um telefone, já que como se afirma “hoje qualquer um pode ter”. Qualquer um que tenha como pagar caro por ele, é bom ser explícito. Não se trata de defender a ineficiência, e sim de não fechar os olhos para as não poucas falhas de uma alternativa, que não resolve. Fecha parêntese.
  • O x da questão está lá atrás, no “discurso fácil”, e pode ter passado despercebido. Vender o que não é eficiente é sim uma saída. Mas não é a única.
  • Pasmem, mas existe ao menos mais uma: investimento. Um órgão ou empresa estatal, quando convém, pode ser tão ou mais eficiente que uma empresa privada. Digo “mais”, pois no caso da empresa pública, que deve visar o bem público, não existe o paradoxo que há no cerne do serviço privado, que visa em primeiro lugar o lucro, em detrimento do bem público, o qual ela se propôs a vender. Pode-se ilustrar isso com o novo filme do polêmico e tendencioso, mas nem por isso menos provocador, Michael Moore. Neste o cineasta levanta a questão dos planos de saúde nos Estados Unidos. Resumidamente, e por isso correndo o risco de ser simplista, o filme mostra como os planos, como empresas privadas que são, buscando o lucro, evitam a todo custo os gastos. Que, no caso, seriam, também, com os exames e tratamentos de seus clientes, comprometendo a saúde e a vida dos consumidores, e consequentemente a eficiência do serviço oferecido.
  • No Brasil a Polícia Federal e os Correios são exemplos de órgãos e empresas controlados pelo governo, que com um mínimo de atenção, melhoraram sensivelmente a qualidade dos serviços prestados à sociedade brasileira.
  • As rodovias são exemplos do que os brasileiros já se convenceram de que não há outra solução, senão a privatização.
  • As universidades federais são exemplos de organismos que chegaram bem perto disso. Neste caso, talvez, não tenha convencido, pela ineficiência da educação superior privada no país, que vive profundamente aquele dilema, exposto acima, entre lucro/eficiência.
  • Vejam que essa lógica "privatizacionista", que não é a única saída, vale para tudo e pode ser radicalizada.
  • O Judiciário e a Polícia são exemplos de braços do Estado já a muito desacreditados pelos brasileiros. O Congresso também.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Polícia, bandido, cachorro, dentista


Eu tenho medo de polícia, de bandido, de cachorro e de dentista

Porque polícia quando chega vai batendo em quem não tem nada com isso

Porque bandido quase sempre quando atira não acerta no que mira

Porque cachorro quando ataca pode às vezes atacar o seu amigo

Porque dentista policia a minha boca como se fosse bandido

Porque bandido age sempre às escuras como se fosse cachorro

Porque cachorro não distingue o inimigo como se fosse polícia

Porque polícia bandideia minha boca como se fosse dentista
(Sérgio Sampaio)

Isso Vale?


Vivemos um momento particular no que se refere à relação entre governo e sociedade. Deixemos de lado a imprensa, que vem sim intensificando a freqüência e intensidade de suas tentativas de influenciar no nos rumos da nossa política. Outros atores que até agora se comportaram de forma muito mais discreta, estão dando as caras, tentando aproveitar de determinada conjuntura tendo em vista tal ou qual objetivo.

Nenhum problema quanto a isso. A sociedade deve sim se organizar e manifestar seus interesses. Brasília está constantemente em disputa (não só no período eleitoral) e se o povo não envia seus “lobbystas”, os que defendem interesses contrários aos do povo não deixaram de enviar. É um cabo de força onde cada lado tem seu próprio meio de pressão (manifestações e festinhas em cabarés). A história recente nos mostra que se o povo não disputa um governo, e aguarda que seus interesses sejam defendidos de cima para baixo, por vezes pode se frustrar.

De acordo com as ações, questionemos os métodos. Duas relevantes mobilizações que estão em andamento nesses dias, mesmo sendo coordenadas por setores um tanto diversos da sociedade, lançaram mão de estratégias que na prática são no mínimo próximas.

De um lado um abaixo assinado, do outro um plebiscito. De um lado a lista disponível em um site na internet, do outro as urnas nas portas das igrejas. Dos dois lados palavras de ordens e falta de discussão.

Quem quer acabar com a CPMF? Quem acha que pagamos muitos impostos? Quem quer pagar menos? Concorda? Assine aqui por favor.

A Vale é nossa! É do Brasil! Foi roubada do povo! Você a quer de volta? Um “x” aqui e deposite naquela urna.

Sem entrar nos méritos do conteúdo das campanhas, só o fato de serem coordenadas por atores opostos e caminharem de forma tão parecida deveria levar suas coordenações à reflexão.

A causa é justa? A pressão é válida? Independentemente não se pode instrumentalizar assim, em prol dessa causa/pressão, a assinatura ou a cédulas de milhares ou milhões de cidadãos que não fazem idéia de por onde passa a questão. A discussão tem que ser feita, a informação tem que ser levada. É claro que a construção de um processo informativo é mais complexa, e é para ser mesmo. Mas isso não compromete sua viabilidade, de forma oposta, o atropelo desta etapa é que pode comprometer a legitimidade do processo.

Nessa semana o congresso recebeu seis carrinhos de supermercado com as mais de um milhão de assinaturas contra a CPMF. No dia 25, será levado a Brasília o resultado do plebiscito pela reestatização da CVRD. São dois grupos diferentes, agindo por fins (nem sempre explícitos) diferentes. Mas e os meios? São plenamente justificáveis?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Sempre é bom olhar para o retrovisor.



Todos acompanhamos curiosos o julgamento do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ontem. Só curiosos, porque atentamente foi impossível. Tudo se deu no apagar das luzes de uma vergonhosa sessão fechada. Não bastasse isso teve até quebra pau entre deputados e seguranças, uma péssima imagem para o poder legislativo. Devido a imensa cobertura da mídia sobre o resultado, as repercussões, seus desdobramentos e as supostas etapas posteriores, penso não ser necessário tecer mais extensos comentários, mesmo porque as conclusões levam a um só sentido: foi só o primeiro dos vários processos que o senador vai enfrentar, a casa é totalmente corporativa, o senador perdeu a capacidade política de dirigir o congresso e na hora que estão em evidencia todos os senadores e senadoras são um princípio de transparência, condenando a sessão e o voto secreto. Não teve um ou uma capaz de defender. Sobre este ponto que chamo a atenção, será que sempre foi assim?

O interesse da imprensa em derrubar o senador Renan Calheiros é explicito. Ele não é fruto somente de uma imprensa investigativa, compromissada com a verdade, mas também (e mais ainda) de uma imprensa rancorosa e que faz sua clara opção de classe. Muito antes de Renan miram em Lula. Não que eu ache que o senador é inocente, não me cabe julgar isso, como não cabe também a imprensa, o que me instiga é que o senador contempla uma das formas mais arcaicas e conservadoras de fazer política, tendo com base o coronelismo, a troca de favores e o desrespeito com o bem público. Nunca é demais relembrarmos o passado desse senador: foi um dos homens da tropa de choque em favor do então presidente Collor. Mas vale lembrar também que a grande mídia deseja a cabeça do presidente Lula, e só este fato explica seu massivo interesse e "compromisso". Devido portanto a essa grande cobertura e exposição todos querem aparecer e externar seus princípios de São Francisco de Assis. Continuemos lembrando, agora a posição de algumas pessoas e alguns grupos em relação ao voto e a sessão fechada.

Em 2000 o senador Tião Viana (PT-AC) apresentou uma emenda constitucional propondo o voto aberto para todas as ocasiões do legislativo, tanto para senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores. A proposta, votada em 2003, foi recusada. O único partido em que TODOS os senadores votaram contra foi o PSDB. No PFL (atual DEM) foram 13 senadores que votaram contra e somente dois a favor. Para refrescar ainda mais a memória cabe relembrar as palavras do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), atual líder do partido:
“O voto secreto é um instrumento que deixa o parlamentar, seja senador, deputado federal ou estadual ou vereador, a sós com sua consciência, em uma hora que é sublime, em que vota livre de quaisquer pressões”, declarou o tucano.

“Votarei a favor da manutenção do instituto do voto secreto, que, a meu ver, tem muito mais méritos do que deméritos”.´

Hoje é censo comum que o voto secreto é prejudicial a democracia. Claro que se a sessão e a votação fossem abertas o resultado seria diferente. Agora cobrar isso só nas situações que convém??? Só quando querem derrubar um opositor??? Ou quando toda a mídia está de olho??? Infelizmente isso não causa nenhuma surpresa, mas serve pra reflertimos quantos Renans temos no Senado, quantos congressistas precisam do Conselho de Ética. Ou tem outro nome pra tanta demagogia? Mais um exemplo que nossa direita não é nem nunca foi confiável. Temos que ficar atentos, e sempre com um olho no retrovisor.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Preto no branco


Nesta quarta, dia 12, o debate sobre as políticas de ações afirmativas no acesso ao ensino superior enfim chega à Universidade Federal de Viçosa. Promovido pela seção sindical dos docentes (ASPUV) e pelo diretório central dos estudantes (DCE), o Seminário “Cotas Raciais e Sociais – Preconceito ou Inclusão?” é a primeira reflexão pública na UFV, salvo engano, a respeito do tema que, depois de causar burburinhos na grande mídia e depois de ganhar espaço e aplicação em grande parte das universidades públicas (segundo site da própria ASPUV nosso ministro teria informado que 40 escolas federais já adotam alguma medida), chega a esse pólo educacional tão avançado nas áreas que lhe convém. O que dizer?

Certo é que a iniciativa deve ser parabenizada. A existência de graves divergências sobre um tema, no caso mesmo no interior dos movimentos sindical e estudantil, nunca foi justificativa (embora por vezes, motivo) para se fugir do debate, antes o contrário.

As políticas de ações afirmativas não são nenhuma invenção do Brasil, muito menos do governo Lula. Não são também novidade no acesso ao ensino universitário, embora não seja essa sua única aplicação. Em nosso país elas são aplicadas há tempos em favor das mulheres, em favor dos portadores de necessidades especiais e também em favor dos negros.

São políticas que partem do princípio que os segmentos da sociedade, que no decorrer da história, por discriminações negativas, foram levados a situações desvantajosas de competição, têm direito a medidas de favorecimento, visando a situação de igualdade.

É o que defende o movimento negro brasileiro para conseguir trazer (ele, não o governo Lula) essa discussão ao pé onde ela se encontra. O movimento, que se preocupa com a questão da raça, exige da sociedade brasileira combate às desigualdades entre os diferentes.

E quando essa questão vem à tona, ganha espaço na impressa e no senso comum, o que acontece? É deslocada com naturalidade para a questão da renda. Há um equívoco grandioso em encobrir o problema da raça, que existe sim no Brasil, pelo problema da renda, que também não deve ser esquecido.

O trajeto fácil encontrado para se evitar esta grande ferida mal estancada do país foi o seguinte: 1) não se deve discutir cotas para negros, e sim para pobres (diz-se estudantes de escolas públicas); 2) não se deve discutir cotas para escola pública, e sim melhorar o ensino de base. E continuamos como e onde estávamos!

A desigualdade racial é um problema grande o suficiente para merecer medidas próprias de combate. E é também um problema grave o suficiente para exigir medidas emergenciais. Daí a necessidade de reserva de vagas nas universidades públicas para os negros.

Um dos males que se visa atingir com o combate as desigualdades raciais no Brasil é o preconceito de cor. E é impossível destruí-lo só teoricamente. O preconceito só se desfaz com inclusão. É impossível educar, ou reeducar, uma pessoa a aceitar e respeitar um negro, um deficiente ou um homossexual (para ficar só com alguns dos grupos sociais que não recebem o respeito que merecem), se não há convívio. Alunos negros nas salas de aula é um pequeno passo nessa direção, um segundo, um pouco maior, são os profissionais de alta qualificação negros inseridos no mercado de trabalho.

Ao tirar esses grupos dos respectivos “guetos” a que estão destinados, quem ganha é a sociedade como um todo. Ganha porque passa a ser menos intolerante, quesito que jugo ser uma bela meta a se seguir.

Tema inesgotável, polêmica semeada, continuamos em uma próxima oportunidade.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A tragédia de 11 de setembro.

11 de Setembro entrou para a história como um dia de tristeza, dor e muito sangue. Forças terroristas cometeram um dos maiores atentados já vistos na América contra a democracia e a liberdade. Um cenário com muito fogo, pessoas em pânico e muita violência. E tudo isso com incentivo e financiamento dos Estados Unidos. Não, não estou falando de 2001, e sim de 1973. Nesse dia o mundo via a derrubada do presidente chileno Salvador Allende.

Socialista, nacionalista e democraticamente eleito em 1970. Allende decide promover mudanças estruturais, proporcionando ao povo chileno as condições para conseguirem sua verdadeira soberania. Entre as propostas do presidente se destacam a reforma agrária e principalmente a estatização e o monopólio da exploração do cobre, que até hoje é a maior riqueza do Chile. Atitudes que batiam de frente com os interesses imperialistas norte-americano, que tinha inúmeros investimentos no país e controlava as maiores empresas de cobre. Além das motivações econômicas o apoio de Fidel Castro ao regime chileno feria as pretensões dos EUA em plena Guerra Fria. Já era incompatível, para eles, terem em seu próprio continente uma ilha socialista, outro ônus como Cuba seria, além de uma desmoralização, uma derrota política incalculável para os interesses dos norte-americanos e do próprio capitalismo.

Com a nacionalização do cobre Allende sofreu um verdadeiro boicote dos EUA, várias empresas deixaram o Chile, houve uma expressiva retirada de capital do mercado ocasionando uma intensa crise financeira. O estrangulamento econômico afeta diretamente os alimentos básicos, causando um descontentamento da população com aquela situação. A direita chilena em conjunto com os militares e os EUA não poupam ninguém na busca de seu objetivo principal: derrubar Allende. O socialista ainda resiste bravamente, vai a ONU denunciar a conspiração da qual o Chile está sendo vítima, mas não tem sucesso.

Em 11 de Setembro de 1973 o exército chileno liderado por Augusto Pinochet, incentivado pela elite e financiado pelos EUA começa o bombardeio a sede do governo. Várias bombas, muito fogo, fumaça e sangue. Apesar da brava resistência dos socialistas a direita estava melhor estruturada e pouco podia ser feito. Começam os 17 anos da ditadura Pinochet. Uma das mais violentas da América. Por volta de 3500 homens e mulheres foram torturados, mortos ou exilados, acabou a liberdade de expressão e a democracia foi sacrificada.

Em 1990 o Chile consegue retoma a democracia, é eleito um governo de oposição aos militares e começa um dos processos de transição mais bem sucedidos no continente. Os crimes militares são julgados e até hoje punições são impostas, muito diferente do que acontece no Brasil. Pinochet morre sem sua sentença, fato que frustra os chilenos, mesmo sabendo que seus crimes não serão esquecidos. Desde 1990 uma coalizão de centro-esquerda a "Concertação" ganha as eleições presidenciais, tendo hoje pela primeira vez uma mulher como governante. O Chile hoje passa longe de um Estado socialista, pelo contrario é o país liberal mais bem sucedido da América Latina. Mesmo assim consegue consolidar uma democracia que já era forte antes do golpe e prioriza suas instituições. A importância da figura e dos ideais de Salvador Allende foram imprescindíveis para fazer do Chile o que ele é, para seguir tais ideais o país deveria adotar uma postura mais progressiva em relação a economia e distribuir suas riquezas, assim seriam grandes as chances de se consolidar como uma nação soberana e justa, eles devem isso a Allende.
Mil pesares pelo 11 de Setembro.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O impasse no Senado


Essa semana o senador Renan Calheiros vai ser julgado no Conselho de Ética. Vale lembrar que essa é só a primeira das três representações que são movidas contra o presidente da casa. Deixando de lado o teor e objetos da acusação outra coisa tem chamado a atenção, a briga para resolver se a votação deve ser aberta ou fechada.

Os oposicionistas de Renan decidiram na última quinta-feira (30/08) por 10 votos a 5 que a votação deve ser aberta. O mesmo placar é esperado na votação favorável a cassação. Os pró-Renan batem o pé para que o voto seja oculto e ameaçam até mesmo a recorrer ao STF.

A questão é: os dois lados sabem que o destino da votação está diretamente ligado a forma que esta vai ocorrer. O que eu até hoje não vi comentarem no jornais, rádio, Internet é a gravidade disso. Como um julgamento tão importante, é o presidente do Senado, pode estar condicionado a tal fato? Pra todo mundo ver eu tenho uma posição, e no escurinho do cinema tenho outra? Isso é ridículo. É mais um fato que descretibiliza o Congresso Nacional. Todos aqueles senadores foram eleitos pelo voto popular e tem a obrigação de prestar contas de seu mandato a sociedade. Infelizmente essa situação não é excessão e sim regra entre nossos políticos. Com o grande interesse da mídia no caso alguns senadores vão votar a favor da cassação no Conselho de Ética (já que a votação vai ser aberta) e contra no plenário da casa (onde a Constituição determina que o voto seja fechado). Qual será o resultado? O Conselho de Ética votará a favor da cassação (nos holofotes da mídia) e o senador será absolvido no plenário (na vergonha do voto secreto). Uma conclusão um tanto lógica, onde uma surpresa seria bem agradável.

Mais uma aberração que tem que ser resolvida com uma Reforma Política-Eleitoral. A mesma Reforma que o Câmara, por corporativismo e conservadorismo, não conseguiu fazer. Legislar em causa própria tem dessas coisas. Mas aqui existe um paradoxo. Antes de ser deputado ou senador eles são cidadãos brasileiros, então legislar em causa própria seria em favor da sociedade, da democracia, do Brasil. Será? Dizem que quando se morde o osso é difícil largar. O PT propôs uma Constituinte exclusiva para a Reforma Política, pode ser uma alternativa, já que deste Congresso não podemos esperar inovações. O que me faz pensar é até onde o povo brasileiro é capaz que romper certas culturas enraizadas e decidir inovar. Cabe aos partidos progressistas, aos movimentos sociais e a sociedade civil organizada o poder de convencimento. No caso de uma derrota (como no referendo do desarmamento) e da manutenção do atual sistema valerá pelo exercício da democracia, afinal de contas só aprendemos praticando.

O Terceiro Congresso do PT




Aconteceu no último fim de semana (31/08 a 02/09) em São Paulo o terceiro congresso do Partido dos Trabalhadores. O congresso por si só já é um instrumento interessante de análise. Foram mobilizados mais de dois mil militantes em todo país nas etapas municipais e estaduais, resultando em 931 delegados em São Paulo, além das delegações de mais de 30 países convidados. O congresso é a instância máxima de decisão, diferente de outros partidos que se dizem democráticos no PT não a distinção entre deputados, senadores, governadores ou dirigentes, todos filiados tem direito a votar e serem votados. Essa estrutura mostra além da consistência política do partido outro ponto mais relevante: o PT não é igual aos outros. Não que não ajam erros, mas até nos erros somos diferentes. Ainda bem.


Nos debates e resoluções aprovadas ficou uma impressão de unidade maior do que o esperado. Todos sabemos das divergências internas e quanto são intensas as disputas pautadas nestes pontos de vista. O congresso mostrou que as divergências não anulam a convergência, e mais, que a maturidade política se alcança no respeito ao contrário, na discussão de ideias e no caso de um partido político na busca do mesmo objetivo. No caso do PT esse objetivo foi reafirmado: o socialismo.


Importante o presidente Lula dizer que "não temos que ter vergonha de colocar a estrela no peito" e que "o PT é o partido mais ético e moral do país". Sabemos da importância do presidente enquanto figura, enquanto símbolo. Toda esse prestigio tem que ser atrelado ao partido, pois sem PT não haveria Lula. Embora seja claro que sem o Lula o PT não seria o mesmo.


Quanto as deliberações muita coerência. A favor do Plebiscito da Vale (proposta que os principais dirigentes divergiam e mesmo assim foi aprovada), descriminalização do aborto, constituinte específica para a reforma política (com uma proposta de parlamento unicameral, sem o senado, será?), criação de um código de ética, antecipação do PED (processo de eleições diretas) para Dezembro deste ano, com a mandato dos dirigentes passando a ser de dois anos e compromisso com uma candidatura da base para as eleições de 2010.


O PT cumpriu seu papel de partido dirigente e protagonista. Vários destes temas são de incumbência do congresso nacional, como a questão do aborto e da constituinte, mas precisam que alguém tome a iniciativa, seria surpreendente se viesse de outra legenda. O teor polêmico de tais proposta faz com que a maioria dos partidos se acovardem, protagonismo é não ter medo de polêmicas, focar um objetivo, ter projeto para tal objetivo e enfrentar o desafio.


A menina dos olhos de ouro da mídia foi a resolução onde o partido diz que consultará os outros partidos da base para a disputa de 2010. Onde querem forjar um recuo está uma decisão mais do que acertada. Claro que o PT tem que consultar os demais partidos, e mais as eleições são daqui a 3 anos, antecipar esse debate, ainda mais com nomes, seria um erro político primário. As eleições do ano que vem são decisivas para 2010, ser intransigente nesse momento é perder espaço em 2008 e consequentemente em 2010. Além do mais a resolução é clara ao dizer que o PT tomará a frente do processo e apresentará um candidato aos outros partidos. Como não poderia deixar de ser, um partido do tamanho e expressão do PT tem o DEVER de ter candidato próprio, não vejo nenhuma tendência que discorde disso. Agora passar uma imagem de dono absoluto da verdade, de único capaz, de intransigente, para nos isolar??? Contra isso já estamos vacinados. Que esse congresso sirva de balisa para os próximos desafios do PT e do governo Lula, que não se deixe passar o momento, que pelo visto é o mais favorável possível.