domingo, 11 de novembro de 2007

Crise do Gás????? ou um post para Marcela Vitarelli




Na última semana, a decisão da Petrobrás de diminuir o fornecimento de gás natural para as distribuidoras do Rio e de São Paulo foi um prato cheio para a direita reacionária e conservadora que controla os grandes meios de comunicação, que passou a anunciar uma possível crise energética provocada pela inabilidade administrativa do governo Lula/PT para com a questão. Uma semana depois a descoberta, também pela Petrobras, do gigantesco poço Tupy, na bahia de Santos, soou como um balde de água fria para a mesma mídia, visto que o Brasil passaria a entrar no seleto grupo de exportadores de petróleo.

Mas o que isso tem haver com a minha grande amiga Marcela Vitarelli???? Tem tudo haver com ela, pois, soberania energética tem tudo haver com política internacional e neste post eu a convoco, para ser meu juiz, júri e executor, já que entrarei neste terreno que ela domina. Caso fale alguma asneira a responsabilidade será toda dela, porque cabe a ela me corrigir com os seus comentários.

Mas vamos ao que interessa. No governo FHC/PSDB o Brasil passou a apostar na inclusão do gás natural como um forte componente de sua matriz energética, principalmente por causa da atuação da Petrobras na Bolívia, pois nossa estatal detinha o direito de exploração dos dois maiores reservatórios de gás daquele país, descobertos até então. Essa decisão foi balizada pela concepção política do Governo FHC - como o estado neoliberal não iria investir em hidroelétricas (opção mais barata e limpa do ponto de vista de emissão de CO2) e não conseguiu criar um ambiente estável para investimento do setor privado, estas deveriam ser deixadas de lado. Além disso, com a atuação da Petrobrás na Bolívia, o Brasil precisava consumir mais gás natural para garantir os lucros da estatal. Ai veio o apagão. Qual foi a solução???? Construir termoelétricas movidas a gás e garantir o fornecimento de gás à estas usinas pela Petrobrás.

Com a eleição dos governos Lula/PT, um giro foi dado em nossa política externa, percebido principalmente por uma inserção mais soberana (ou independente) do Brasil no cenário internacional e o descolamento do Brasil dos EUA, da condição de "parceiro importante" ou "privilegiado" do primeiro com o segundo. Acredito que as ações que mais ilustram isso foram o sepultamento da ALCA e a opção pelo MERCOSUL como alternativa de integração e desenvolvimento soberano das nações (do cone sul a princípio e latino-americanas como um todo).

A eleição do governo Evo Moralles na Bolívia foi outro marco. O episódio da reestatização das reservas de gás foi muito significativo, pois apesar do ataque da direita que denunciou o "roubo" que nossa estatal tava sofrendo o Gov. Lula/PT soube negociar com um país que requisitava legitimamente a sua soberania sobre seus recursos naturais com um outro viés. A impressão da política de desenvolvimento regional conjunto implica a correção de assimetrias, principalmente as econômicas. E a maior assimetria econômica na Bolívia era a atuação predatória da Petrobrás, fruto da política internacional de FHC, que pregava o "desenvolvimento dependente" - ou seja, reconhecia a necessidade que o Brasil tinha das grandes economias mundiais, mas em relação a paises com um desenvolvimento econômico semelhante ou inferior ao Brasil, atuava como as grandes potencias atuam com as outras economias. Em linguagem de gente: A Petrobrás durante muitos anos atuou na Bolívia como uma multinacional (ou transnacional) atua no Brasil, de forma imperialista e predatória.

Ai acontece a crise energética na Argentina e novamente o Brasil tem papel chave, pois o então presidente argentino Nestór Kirchner pede ao presidente Lula ajuda para solucionar o problema. Mais uma vez o gov. Lula/PT imprime a sua visão do que deva ser uma política internacional para o Brasil. Levando em consideração a dimensão regional, do Mercosul, como dimensão estratégica de possibilidade de soberania em relação ao mundo para este conjunto de países, o presidente Lula negociou com Evo uma venda maior de gás natural à Argentina em detrimento do Brasil.

É neste contexto que acontece a Crise do Gás. Mas será mesmo uma crise????? Questiono isso porque a Bolívia vendeu para o Brasil a quantidade contratual de gás, foi o excedente que ela vendeu para a Argentina e não para o Brasil. Além disso o Petrobrás fez a mesma coisa com as distribuidoras do Rio e de São Paulo: vendeu a quantidade contratual e o excedente foram para as térmicas, pois assim determinava a lei. Então onde está o problema??? O problema está no estímulo ao uso do gás natural na nossa matriz energética que se iniciou na Era FHC. O Consumo de gás no Brasil vem crescendo a mais de 10% ao ano por pelo menos 10 anos. Hoje o Gás Natural compõe cerca de 13% de nossa matriz energética. A aposta de FHC foi que a exploração nociva da Petrobrás na Bolívia manteria este consumo intenso.

Agora vemos que as coisas mudaram. Ao mesmo tempo que se descobre uma gigantesca jazida de petróleo e gás natural de boa qualidade, as negociações entre Bolívia e Brasil retomam de maneira independente e soberana entre os dois países, onde o Brasil voltará a investir naquele país para aumentar a sua capacidade produtiva e os dois países formarão uma estatal mista para explorar o maior poço de gás natural da Bolívia, descoberto a um ou dois anos atrás pela Petrobrás, mas ainda inexplorado. Ganha a Bolívia, que ganha investimentos que geram trabalho e renda e ganha o Brasil que mantém a sua demanda de gás garantida pelas remessas da Bolívia.

Além disso os investimentos nos Biocombustíveis no Brasil continua: Álcool, Bioetanol, Biodiesel, etc... Estamos limpando a nossa matriz energética e caminhando para uma soberania energética que num futuro próximo nos levará a uma liderança neste setor. Garantia de Energia é garantia de soberania econômica e desenvolvimento independente, ou o que teria haver a invasão dos EUA ao Iraque???????

6 comentários:

Mateus BG disse...

e ai galera

Ninguem comentou o meu post, será pq o meu texto ficou grande ou pq ele é muito lulista?????
Manifetem-se

N. Real disse...

ficou grandes e sem ilustrações...rs!
(brincadeira)

Também achei louvável a posição do governo na crise com a Bolívia.
Mas não acho que depois desse episódio a Petrobrás tenha mudado os rumos de sua atuação predatória, 'fruto da política internacional de FHC, que pregava o "desenvolvimento dependente"'.

Mateus BG disse...

Por que Natália????

Anônimo disse...

Meu querido BG,

Demorei mas é que minha vida esta uma loucura nas terras hermanas.
Bom, excelente tema para debate. Do ponto de vista de um analista internacional, posso fazer alguns comentarios interessantes.
Primeiro em relacao as politicas externas correspondentes ao governo Fernando Henrique e ao governo Lula. No meio académico de analise de politica externa é praticamente um consenso que a política externa brasileira desde Barao de Rio branco até hoje, é uma política sustentada pelo Itamaraty. O Itamaraty é um órgao do governo que a mais de 1 seculo é caracterizado pela independencia en producao da politica externa brasileira. Inclusive existem varios debates a cerca do isolacionismo deste órgao que é elogiado por alguns e criticado por outros. Por exemplo aqui na Argentina já ouví elogios, pela constancia e solidez deste órgao, visto que a politica exterior Argentina é totalmente desorganizada. Já no meio academico brasileiro as criticas sao varias.
Mas porque eu estou flando isso, Porque se formos analisar as politicas exteriores de estes dois presidentes, nao houve mudanca que fosse realmente considerada importante. Do ponto de vista internacional a politica externa brasileira de "querer ser lider, sem pagar os custos" é uma política que vem desde o Fernando Henrique. Com o governo Lula posso destacar a lideranca na intervencao no Haiti, como reflexo desta vontade d lideranca. Outro exemplo seria a resposta negativa do Brasil a fazer parte dos Países da OCDE, que Chile este ano foi aceito. Ñ é de interesse do Brasil ser considerado RICO. Porém nao tem feito nada em terminos de protecao aos paises menores. Um exemplo disso é o total descaso com Paraguay e Uruguay, no ámbito do MERCOSUL. Os EUA tem planos para o proximo ano instalar bases militares nas terras guaranis e o Brasil continua calado... Nao acredito, sinceramente que a política externa brasileira muda muito estando Lula, Fernando henrique... Justamente pela solidez e pelo isolacionismo do Itamaraty.
No caso energetico, o problema e que somos um país que adotamos a á política de mercado como forma de interagir com o mundo, desde que entramos na OMC, se nao me engano em 1997, seguimos regras de mercado internacional. No caso energético, muitas vezes vale mais a pena exportar energia que manter o preco interno baixo. E uma simples resposta a lei do mercado internacional de oferta e demanda.
O que muda, é o respeito ao cidadao e a coerencia da política do nosso país. As crises energeticas foram resultad de mal planejamento de anos e anos...Juntamente com um contexto internacional de crise e poco liquidez financeira.
O que eu gostaria de dizer é que independente do governo que esteja no poder, nao podemos perder a lideranca da energia limpa, e continuar com a política de energias alternativas. Nao podemos nos tranquilizar com esta nova descoberta de petroleo. Nao podemos perder o foco mais uma vez, como bem colocado pelo BG.
Acredito profundamente que o Brasil como ator internacional muda de posicao da balanca de poder regional e inclusive internacional. A diferenca será em como o Brasil utilizará os recursos que virao com a exportacao desse petroleo, que ja deve estar a 100 dolares o barril.
Temos varios exemplos a seguir, Coreia do sul e ate o nosso vizinho magrinho mais eficiente, o chile. A diferenca da politica externa se fará em pagar os custos da lideranca, investir em educacao e infraestrutura para o país. E ficar de olho pois ter uma base militar na nossa porta nao é nada aconselhavel em terminos de seguranca internacional.
Em relacao a Bolivia, Evo Morales foi um marco sim. Principalmento no contexto interno boliviano, digo mais inclusive que o contexto internacional. As medidas tomadas por ele considero totalmente coerentes, alguns discursos me parece inocente, mas acredito que ele serve de exemplo e simbolo do que realmente é um presidente que saiu do povo, no caso indigena, massacrado por seculos. O brasil nao perdeu nada, pois acordos foram fechados e a petrobras continuara trabalhando por lá... E certo? e Errado???
Eu ví aqui na Argentina o Brasil ser considerado imperialista por comprar a indudria de alpagatas que é um simbolo nacional para eles (sao horriveis e totalmente sem estilo, mas!!! rsss).. As vezes esquecemos que sim somos potencia regional... E aí? Muda tudo? ou nao????
bjussssssss

Anônimo disse...

Queria comentar a guerra do Iraque posteriormente, pode ser?...

Mateus BG disse...

Marcela,

Muito bom o seu comentário, ainda mais a sua opinião que considero extremamente importante vai ajudar a esclarecer algumas coisas.
Já havia lido em alguns artigos sobre a postura isolacionista do Itamaraty em relação a política interna. Mas a pergunta é: Até onde vai este isolacionismo? Até onde a política interna, de fato não influencia a externa e vice-versa? Acredito que algumas coisas continuaram as mesmas entre os governos FHC e Lula, mas acredito que algumas coisas mudaram substancialmente. Por exemplo: a postura brasileira em relação a américa latina: No gov. FHC houve um trabalho de integração sulamericano com um foco muito forte no livre comércio prioritariamente. No gov, Lula este foco permanece mas outras dimensões da integração ganham relevancia como a integração de infra estrutura, legislativa, educacional etc...
É claro, muita coisa continua refirmando a postura que vc coloca no seu comentário e acredito que o caso do Haiti é o que mais reforça isso, mas ainda acho que a postura do Brasil em relação ao mundo, nos seus diversos fóruns mudou (ONU e Cúpulas Internacionais). Pode ser ainda uma visão "contaminada" por minha postura petista (possibilidade essa que não nego)mas o que quero reafirmar é que as coisas estão diferentes(vide questão energética).

Ah e estamos esperando o seu texto sobre a guerra do iraque, um assunto que também tenho muita vontade de discutir.