domingo, 25 de novembro de 2007

Salário mínimo e discrepância máxima!


Na década passada defendia-se com um salário mínimo de 100 dólares. Hoje, com os consecutivos reajustes do mínimo e a atual desvalorização da moeda norte americana em comparação ao Real, essa meta foi superada em mais que o dobro.

Há quem defenda serem estes reajustes a maior política de redistribuição de renda que este país já viu.

De fato, na presente conjuntura econômica, um reajuste de quase 100% em cinco anos, é assaz significativo e cumpre sim este objetivo.

No entanto, podemos deixar esse progresso, que é relativo, de lado por um instante para refletirmos sobre os números absolutos. O salário mínimo brasileiro em 2007 não chega a R$ 400,00. Independente dos avanços obtidos, independente da situação já ter sido pior, esse valor, além de extremamente baixo e guarda completa discrepância com os “salários máximos” que este país paga.

Mês passado, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou resultados de um estudo que compara esses números. O maior salário que o setor público paga no Brasil alcança a bagatela de R$ 28.000,00! Quando olhamos também a iniciativa privada este teto atinge os 6 dígitos, numa soma de R$ 120.000,00!

O estudo (Hierarquia e Desigualdade Salarial na Administração Pública Brasileira) lembra ainda que as menores remunerações mensais pagas, inclusive pelo setor público, são menores que um salário mínimo.

28 mil reais são mais de 70 salários! Nada, nem nobreza, nem sacrifício, nem responsabilidades, nem merecimento algum, justifica o trabalho de uma pessoas valer 70 vezes o de outra!

Os comentários sobre o relatório analisam que essa diferença é muito alta e comparam com a desigualdade média nos países desenvolvidos que gira em torno de 20 vezes. Repito, nada justifica o trabalho de uma pessoas valer 20 vezes o de outra!

Se não estamos preparados para aceitar que todos recebam igualmente por um dia de trabalho; se anos de estudo e de preparação e as responsabilidades que certos cargos exigem são justificativas para existir uma diferenciação salarial, uma desigualdade econômica; que essa diferença seja de 4 ou no máximo 5 vezes. É mais do que suficiente e já é injusto. Se alguém merece receber 20 ou 25 mil reais, ninguém merece receber menos que 5 mil.

3 comentários:

Mateus BG disse...

Muito bom o texto nilo. Acredito que a discrepancia salarial entre o mínimo e o máximo no brasil é um retrato do quanto é injusto e profundo o processo de desigualdade no Brasil. Expor estes dados é como tirar um véu que tampa todo o dia uma realidade que agente não quer ver.

Eu realmente acredito que o aumento do poder de compra do salário mínimo (bem comoo seu aumento em termos absolutos) é uma das mais eficazes políicas públicas de transferencia de renda, mas nada justifica tamanha diferença.

É ainda temos que avvançar muito pra mudar essa sociedade...

Anônimo disse...

Otimo texto. E o grande problema desse país rico de povo pobre. Somos um país que tem astronalta!!!
Acho que já falei isso, mas nas relacoes internacionais, quando se quer dizer que um pais tem bastante desigualdade de renda, se diz que um país sofre de : "brasilination"....
é.... meu Brasil brasileiro...

Anônimo disse...

Amigos,
O que pensam dessa noticia!
(nao sabia onde colocar .. por isso puz aqui savao)
bjus
Ma


São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Folha de S. Paulo - Brasil

ELIO GASPARI

A Guiana quer virar protetorado florestal

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Nosso Guia trata a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, como se fosse uma santa de procissão
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ENQUANTO A diplomacia-companheira brincou de potência emergente em Annapolis discutindo uma solução para a crise do Oriente Médio (encrenca com 60 anos de idade, a 10 mil quilômetros de Brasília), apareceu um verdadeiro problema com a Guiana, logo ali, na fronteira norte do país. Numa entrevista ao repórter David Howden, o presidente Bharrat Jagdeo anunciou que vai negociar a preservação de sua floresta amazônica em troca de recursos para o desenvolvimento. Nas suas palavras: "Eu não sou um mercenário e isso não é chantagem. Eu sei que não existe almoço grátis e não estou fazendo isso porque sou um bom sujeito que quer salvar o mundo. Precisamos de ajuda".
Medida pelo poder de compra, a renda per capita dos 770 mil habitantes da Guiana está em US$ 4.800. A dos brasileiros aproxima-se dos US$ 9.000. A floresta de Jagdeo ocupa uma área maior do que a Inglaterra e a mata seria administrada por uma organização internacional liderada pelos britânicos. Seria um dos maiores projetos de preservação do planeta. Seria também uma recaída colonial para o país, que se tornou independente em 1966.
É um direito do povo da Guiana fazer o que bem entende com seus recursos naturais, sobretudo numa época em que o progresso da região amazônica confunde-se com a ação predadora das motosserras e das queimadas.
Desde 1978, Brasil, Guiana, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela e Peru são signatários do Tratado de Cooperação Amazônica. Por elegância, o presidente da Guiana poderia ter apresentado sua idéia nesse foro. Por cortesia, em outubro passado o presidente do Suriname, Roland Venetiaan, também poderia ter discutido com seus vizinhos a idéia de oferecer um campo de testes para veículos militares americanos em seu território.
A diplomacia-companheira faz figuração em Annapolis, enquanto nas fronteiras de Pindorama constrói-se a maloca da Mãe Joana. Na condição de grande potência poluidora da atmosfera, o governo brasileiro é responsável pelo que faz e sente-se bem na condição de malfeitor. Nosso Guia trata a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, como se fosse uma santa de procissão, seguida pela bandinha da diplomacia emergente, na suposição de que a questão amazônica pode ser resolvida com parolagem doméstica.
Admita-se um cenário no qual há uma base americana no Suriname e a Guiana transforma-se num protetorado ambiental da Inglaterra. Nessa hora, voltarão para a mesa as palavras do presidente francês François Mitterand, em 1989: "O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia". Ou ainda uma frase do Prêmio Nobel Al Gore: "Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles. Ela pertence a todos nós".
Nunca é demais lembrar que o primeiro americano a descer o Amazonas, em 1851, foi o tenente William Herndon. Parecia um oficial curioso, mas era um observador da possibilidade de transplante da escravaria do sul dos Estados Unidos para os matos de Pindorama. Ele escreveu um livro que fez enorme sucesso, e um garoto de 16 anos, encantado pela narrativa, foi para Nova Orleans em busca de um navio com destino a Belém. Queria a aventura e um pouco de comércio de coca. Como a rota não existia, subiu o Mississippi com um amigo. Chamava-se Mark Twain.