Caras amigas e amigos, no começo desta semana, diante da belíssima vitória da seleção brasileira de futebol feminino, S. J. C. Silva mais uma vez compartilhou conosco algumas de suas reflexões. Coerente como é de seu costume, esse post recebeu alguns comentários sendo todos positivos, que congratulavam o próprio autor e as atletas vitoriosas.
Dentre esses comentários lá está o meu, que não destoa muito dos demais. Ou pelo menos aparentemente não destoa. Eu também parabenizei as jogadoras e nisso concordamos em aparência e essência. No entanto, quanto aos méritos do autor, fiquei com a ligeira impressão de que o mesmo não foi plenamente compreendido. Como já aconteceu comigo, aqui mesmo, em ocasiões passadas.
Sávio, a meu ver, está de parabéns por ter usado, genialmente, o episódio da conquista esportiva como ILUSTRAÇÃO para NÃO DEIXAR PASSAR EM BRANCO essa ótima oportunidade de se discutir várias GRANDES QUESTÕES que as mulheres enfrentam no Brasil de hoje (não só no Brasil e não só hoje).
O texto nos fala de uma grande polêmica, atual em nosso país desde o século XIX, que é a legalização do aborto. Uma questão que tem em sua espinha dorsal a questão de gênero, tanto é que o atual e atuante ministro da saúde do Brasil, em sua empreitada para pelo menos trazer esse tema à tona, não usou de meias palavras ao afirmar que: “se homem engravidasse, seria a favor do aborto”.
O texto também falou da diferença brutal entre a remuneração salarial entre homens e mulheres. Ponto muito pertinente, principalmente quando temos novos números, de novas pesquisas, apontando velhas opressões. Ainda que ajam avanços.
O texto também falou de discriminação nua, crua e cotidiana, que mais da metade da população brasileira sofre, não só por parte do outro como pelos seus.
O texto ainda fala do papel da mulher na política brasileira. Fala da importância da participação e representação feminina nas instâncias do poder. Fala da fundamental atuação dentro de campo, da Marta (não a do futebol, mas nossa ministra do Turismo), se não como real candidata, ao menos como nome expressivo que disputa a candidatura à presidência de república de um dos maiores partidos do país; e de um partido progressista, vale pontuar, o que faz desta algo muito distante da candidatura Roseana/2002. Só a disputa já é um acumulo.
E o texto não falou, mas poderia ter falado de jornada tripla, de violência doméstica, de sexualização publicitária, de prostituição (infanto-juvenil ou não), das crianças monoparentais, e outros e outros temas que as comentaristas poderiam enumerar com muito mais propriedade do que eu.
Não falou, mas tudo isto está lá. A discussão foi lançada e a oportunidade não deve ser desperdiçada. Não concordo com que deixemos o post, de nosso colega, passe como apenas mais um festejo passageiro, como vimos muitos outros, de uma conquista individual ou de um pequeno e seleto grupo.