terça-feira, 25 de setembro de 2007

Escola pra quê?



Entrou em vigor um decreto do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), onde os alunos de 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino fundamental ganham premiações em dinheiro dependendo do seu rendimento escolar. Os valores são calculados entre dois e doze salários mínimos, podendo chegar então a R$ 4560,00 no final dos três anos. As gratificações são correspondentes aos conceitos “Muito Bom” conseguidos pelos alunos. Além do dinheiro os estudantes também terão prioridade em futuros estágios na prefeitura. O sindicato de professores questiona o decreto, ou seja, ai vem polêmica, e das boas.


A prefeitura alega que esta é uma medida para diminuir a evasão escolar, o sindicato contrapõe dizendo ser mais uma posição para incorporar o sistema de progressão automática, da qual os professores são contrários. Extrapolemos estes dois pontos, sem é claro nega-los. A primeira questão negativa, a meu ver, é o incentivo da competição entre crianças. Não é justo incitar meninos e meninas de 12 a 15 anos a uma competição constante da qual, muita das vezes, o sustento de suas casas estará em jogo. Muitos podem dizer que o mundo atual é competitivo, que é individualizado. Por mais que eu seja contrário a isso negar essa situação, infelizmente, não é real. Mas justamente por isso a escola deve ser o lugar de romper este status. Para conseguir romper com essa individualidade o caminho passa, necessariamente, pela escola. Os estudantes devem aprender a trabalhar em conjunto, se organizar em sociedade, praticar a solidariedade e prezar, sempre, a igualdade. Utópico? Pode até ser, mas não no sentido de utopia como inalcançável, é sim no sentido de sociedade a ser desejada, seja qual for o caminho. Claro que nesse caso o caminho é árduo, mas colocar estas crianças em mais uma disputa contínua não contribui em nada para tal, ainda mais com dinheiro em jogo.


Como sabemos a maioria dos pais que tem filhos em escolas municipais do Rio vivem em difícil situação financeira. Este repasse pode gerar uma cobrança excessiva destes pais com os estudantes, transferir a responsabilidade econômica do lar para estes, e devido a pouca estrutura familiar (em alguns casos) incitar a violência em caso de um “não sucesso” do filho. A pressão para estas crianças será muito grande, extrapola o que podemos entender por incentivo. É uma maneira de antecipar a forte pressão que sofrem os alunos do Ensino Médio, por causa do vestibular ou do mercado de trabalho, para o Ensino Fundamental.


O que diminui evasão escolar é o interesse do estudante com a escola e a condição de sua família se manter sem que as crianças trabalhem. É fazer entender que uma boa base escolar é imprescindível para, quando adultos, conseguirem um bom trabalho e levar uma vida melhor. O dinheiro destinado aos “prêmios” seria mais bem investido na estrutura das escolas, na preparo e salários dos professores e em programas sociais que proporcionasse a família do aluno a ter trabalho e conquistar sua autonomia. Mas será que estes valores dos “prêmios” seriam suficiente para tudo isso? Pode até ser que não. Mas o que questiono não são os valores, e sim o projeto, a concepção de educação, as prioridades.


O abismo existente entre escola privada elitizada e escola pública pobre, pode ter mais um elemento. Na própria escola pública haveria sua elite. Não que isso não ocorra, mas a partir de então essa discrepância seria uma política pública de Estado. Isolar, em seu próprio meio, os que valem a pena o Estado investir e os que não valem. Além do sistema e da sociedade capitalista selecionar seus privilegiados, selecionam também os privilegiados entre os menos favorecidos. Muito complexo não? Nunca esquecendo, sendo repetitivo, que estamos falando de crianças. Não acredito que tudo isso não foi levado em conta pelos formuladores de tal medida. Pelo contrário, como pessoas muito inteligentes que são (por exemplo, o prefeito) me fazem pensar que tudo isso foi analisado, e justamente por incentivar esse individualismo, essa competição, o separatismo e a pressão essas medidas foram adotadas.

11 comentários:

nilo disse...

"Mas será que estes valores dos “prêmios” seriam suficiente para tudo isso?" Não, não seriam. E é também por isso que essa é uma saída adotada, não só lá como cá também. Por que é mais barato.
Mas também porque é mais fácil e aparentemente mais direto.
É assim que esse posicionamento político resolve os problemas: se tem alguém assaltando em um semáforo , põe-se lá dois policiais está resolvido; os assaltantes vão para o próximo.
De solução fácil em solução fácil , võ construindo um problema incontornável.
Bom texto, mas faltou o paralelo com o nosso estimado governo estadual. Já que em lugar algum se vê críticas a ele, não se pode disperdiçar oportunidades.

N. Real disse...

Idéia de Jirico!

Anônimo disse...

Muito lindo esse blog! Estão super de parabéns, vou tentar ler todos os textos ...
Beijo pra todos, muitas saudades...

Anônimo disse...

É, complicado! Bom, trabalhei 2 meses como voluntária numa ONG aqui na Argentina chamada Cimientos (www.cimientos.org), seu objetivo é promover a igualdade de oportunidades educativas.É uma ONG que fornece uma bolsa para que o aluno carente possa se manter na escuela e chegar até a faculdade, inclusive comecam a dar bolsas pra faculdade tmb. Quem tiver tempo dá uma olhada no site, acho que é uma boa alternativa para este caos social em que vivemos. Apesar de todos o problemas e criticas que vimos no artigo. é uma maneira de ajudar .. diferentemente, logicamente..os alunos sao escolhidos por notas, mas tmb por sua situacao social...
E como eu acredito muito na forca do terceiro setor e das assossiacoes civis, acho que além de "tentar" eleger melhor nossos governanter e legisladores, devemos arregassar as mangas e fazermos o nosso papel como cidadaos. Viva o trabalho voluntário!!! :)Saudades beijos para todos especial para o BG!!!

Unknown disse...

Antes d tudo... adorei o espaço! vai ser muito agradável ler e discutir sobre temas q, infelizmente, por enquanto, não tenho oportunidade d abordar com a galera da cidade onde moro! Qto ao texto...
"... o mundo atual é competitivo, que é individualizado... Mas... a escola deve ser o lugar de romper este status... o caminho passa, necessariamente, pela escola..."
Será Sávio, q passa pela escola mesmo? Então, por meio de uma educação "libertadora", vamos conseguir conscientizar a todos de que podemos construir uma sociedade mais justa?... Gostei muito do texto, mas atentei para esse trecho, pois eu não acredito que q a educação seja "o caminho" para a transformação da sociedade, mas sim uma ruptura drástica com o modo de produção capitalista, que c dará por meio da mobilização e organização populares. A partir daí, quando conseguirmos acabar com a propriedade privada dos meios de produção (etc, etc..), haverá possibilidade d que "... estudantes devem aprender a trabalhar em conjunto, se organizar em sociedade, praticar a solidariedade e prezar, sempre, a igualdade...".
Não queero defender, com isso, que deixemos de lado qualquer possível reforma progressista, já que representam uma forma d minorar o sofrimento dos trabalhadores, mas q devemos sempre ficar atentos para não cair na armadilha de q que, mudando o sistema educacional, conseguiremos realizar as tão almejadas transformações em nossa sociedade...
comentário um pouco extenso, mas é q avontade d falar eh grande e a falta d escrever eh tanta, q perdi a capacidade de síntese.
Grande abraço...muita saudade!
Paty

Mateus BG disse...

Querid@s,

Vivemos esta situação aqui em minas também com o nosso estimado governador Aécio Neves. Ou ninguem se lembra do Poupança Jovem?????

O problema deste tipo de política (que se diz publica) é que ela não passa de uma política de Vitrine, com caráter extremamente eleitoreiro, pois nunca será universal e em muitas vezes o orçamento da propaganda da política é quase o mesmo do projeto.

É isso que acontece em minas onde o poupança jovem se compromente com umas poucas centenas de estudantes em algumas poucas cidades e a propaganda rola solta nos meios de comunicação de massa.

Beijos p todos e todas e Marcela, aguarde, estou preparando um post especial para vc...... Saudades

Sávio disse...

Bem, primeiramente é bom ver que o espaço agradou, esses comentarios so enriquecem o debate.
Realmente pequei ao nao falar que o governo de Minas tambem adota esse politica, o Popança Jovem é a mesma coisa, porem no momento só acontece em Ribeirao das Neves. É a mesma logica, mas como tudo aqui no estado a verba para a propaganda é estrondosa, neste caso maior até que o dinheiro "gasto" no programa, como disse o BG.
Paty tambem acho que o problema é bem maior, nunca fui da turma onde "educaçao é TUDO", mas acredito que uma mudança de estrutura "PASSA NECESSARIAMENTE" pela educaçao, é um dos caminhos, e um dos mais nobres caminhos. Mas seu comentario leva a reflexao, foi muito proveitoso.
Marcela, o terceiro setor tem seu papel, nao sou do time de "acreditar muito em sua força", embora saiba de suaa importancia. Acredito muito na força do Estado. A logica para uma gratificaçao dada pelo 3 setor é diferente da logica do Estado. Vou dar uma olhada no site pra pode discutir com mais propriedade, mas a colaboraçao é a divergencia de ideia tambem foi muito bem vinda.
Espero que olhem os posts anteriores, e se puder comentem. Paty enquanto ao tamanho do comentario é isso mesmo, se tiver alguma coisa maior manda pra gente por e-mail que publicamos como post. Claro que publicaremos o seu também Marcela.
Abraços.

nilo disse...

E viva a diversidade!

Não vejo uma relação tão estreita entre o programa da Cimientos, e a política abordada no texto. O detalhe de qual ator promove ação (governo ou organização não governamental) é extremamente relevante.
Mesmo não conhecendo o programa da ONG, não precisamos entrar nessa questão. Uma coisa é a sociedade civil organizada optar por essa estratégia, outra, completamente diversa, é o governo.
Quanto intervenção da paty, está de parabéns por abrir os olhos para outros ganchos que estavam encobertos nesse debate, indo além do explícito.
Sejam bem-vindas. Marcela, estava ancioso pela sua participação, e acho que todos queremos ver o quão democrático é este blog.
E Marina, você também tem muito a dizer, tente ler sim, mas quando puder escreva, pra gente ir somando.

Anônimo disse...

Oi Sávio, esse é um tema interessante e polêmico. Concordo que antecipar a competição na vida dessas crianças exalta ainda mais o individualismo e o estresse. Mas não concordo que: "Este repasse pode gerar uma cobrança excessiva destes pais (...), transferir a responsabilidade econômica do lar para estes (...) (e) incitar a violência em caso de um “não sucesso” do filho", não porque isso não vai acontecer, mas porque já acontece. Mesmo que os pais não cobrem diretamente o trabalho dos filhos, o consumismo o faz de maneira cruel. Acredito que essa pode ser uma maneira das crianças ganharem dinheiro com os estudos. Respeitando a diferença de maturidade, acho que seria como o que acontece com as bolsas de iniciação científica na universidade.

Sávio disse...

Ei Aline! Adoro quando discordam de mim, de verdade. Bem nesse caso realmente não concordamos. Que o consumismo existe e é um problema, principalmente para os pobres(que nao tem acesso), é um fato. Agora não é criança ganhar dinheiro pra estudar, é criança ganhar dinheiro pra ser a melhor, pra competir, para causar uma exclusão entre os seus. Na universidade, alem da questao da maturidade que vc falou, as pesquisas fazem parte de uma estrutura onde também estao o ensino e a extensao. É uma alternativa, que hoje devido ao carater tecnocrata das universidades tem um apelo maior, por isso a competiçao em relaçao as bolsas, que deveriam ser mais amplas e comtemplar o ensino e a extensao igualmente. Já no ensino fundamental o incentivo nao é uma alternativa no sentido de opçao, e sim no sentido de necessidade. Uma necessidade economica que atrapalha o desenvolvimento social e ludico. A funçao da escola basica, a meu ver, nao deve ser essa, muito pelo contrario. Uma medida dessas gera exlusao. Mais é isso ai, vamos ao debate.
Beijo.

Jayme disse...

Educação é coisa séria. Não deve ficar exposta a medidas que só servem para aparecer na mídia e demonstrar diante da opinião pública que se preocupam com a situação precária do ensino e que fazem algo em prol de uma melhora.