Aconteceu no último fim de semana (31/08 a 02/09) em São Paulo o terceiro congresso do Partido dos Trabalhadores. O congresso por si só já é um instrumento interessante de análise. Foram mobilizados mais de dois mil militantes em todo país nas etapas municipais e estaduais, resultando em 931 delegados em São Paulo, além das delegações de mais de 30 países convidados. O congresso é a instância máxima de decisão, diferente de outros partidos que se dizem democráticos no PT não a distinção entre deputados, senadores, governadores ou dirigentes, todos filiados tem direito a votar e serem votados. Essa estrutura mostra além da consistência política do partido outro ponto mais relevante: o PT não é igual aos outros. Não que não ajam erros, mas até nos erros somos diferentes. Ainda bem.
Nos debates e resoluções aprovadas ficou uma impressão de unidade maior do que o esperado. Todos sabemos das divergências internas e quanto são intensas as disputas pautadas nestes pontos de vista. O congresso mostrou que as divergências não anulam a convergência, e mais, que a maturidade política se alcança no respeito ao contrário, na discussão de ideias e no caso de um partido político na busca do mesmo objetivo. No caso do PT esse objetivo foi reafirmado: o socialismo.
Importante o presidente Lula dizer que "não temos que ter vergonha de colocar a estrela no peito" e que "o PT é o partido mais ético e moral do país". Sabemos da importância do presidente enquanto figura, enquanto símbolo. Toda esse prestigio tem que ser atrelado ao partido, pois sem PT não haveria Lula. Embora seja claro que sem o Lula o PT não seria o mesmo.
Quanto as deliberações muita coerência. A favor do Plebiscito da Vale (proposta que os principais dirigentes divergiam e mesmo assim foi aprovada), descriminalização do aborto, constituinte específica para a reforma política (com uma proposta de parlamento unicameral, sem o senado, será?), criação de um código de ética, antecipação do PED (processo de eleições diretas) para Dezembro deste ano, com a mandato dos dirigentes passando a ser de dois anos e compromisso com uma candidatura da base para as eleições de 2010.
O PT cumpriu seu papel de partido dirigente e protagonista. Vários destes temas são de incumbência do congresso nacional, como a questão do aborto e da constituinte, mas precisam que alguém tome a iniciativa, seria surpreendente se viesse de outra legenda. O teor polêmico de tais proposta faz com que a maioria dos partidos se acovardem, protagonismo é não ter medo de polêmicas, focar um objetivo, ter projeto para tal objetivo e enfrentar o desafio.
A menina dos olhos de ouro da mídia foi a resolução onde o partido diz que consultará os outros partidos da base para a disputa de 2010. Onde querem forjar um recuo está uma decisão mais do que acertada. Claro que o PT tem que consultar os demais partidos, e mais as eleições são daqui a 3 anos, antecipar esse debate, ainda mais com nomes, seria um erro político primário. As eleições do ano que vem são decisivas para 2010, ser intransigente nesse momento é perder espaço em 2008 e consequentemente em 2010. Além do mais a resolução é clara ao dizer que o PT tomará a frente do processo e apresentará um candidato aos outros partidos. Como não poderia deixar de ser, um partido do tamanho e expressão do PT tem o DEVER de ter candidato próprio, não vejo nenhuma tendência que discorde disso. Agora passar uma imagem de dono absoluto da verdade, de único capaz, de intransigente, para nos isolar??? Contra isso já estamos vacinados. Que esse congresso sirva de balisa para os próximos desafios do PT e do governo Lula, que não se deixe passar o momento, que pelo visto é o mais favorável possível.
Um comentário:
"...protagonismo é não ter medo de polémicas, focar um objetivo, ter projeto para tal objetivo e enfrentar o desafio".
Acho que isso que está faltando no governo.
No mais, apesar de algumas ressalvas ainda acho o PT um partido democrático e inovador. Ético, depende da discussão...
Beijos!!!
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