sábado, 29 de setembro de 2007

Carta aberta aos comentaristas de “No país do futebol...”


Caras amigas e amigos, no começo desta semana, diante da belíssima vitória da seleção brasileira de futebol feminino, S. J. C. Silva mais uma vez compartilhou conosco algumas de suas reflexões. Coerente como é de seu costume, esse post recebeu alguns comentários sendo todos positivos, que congratulavam o próprio autor e as atletas vitoriosas.

Dentre esses comentários lá está o meu, que não destoa muito dos demais. Ou pelo menos aparentemente não destoa. Eu também parabenizei as jogadoras e nisso concordamos em aparência e essência. No entanto, quanto aos méritos do autor, fiquei com a ligeira impressão de que o mesmo não foi plenamente compreendido. Como já aconteceu comigo, aqui mesmo, em ocasiões passadas.

Sávio, a meu ver, está de parabéns por ter usado, genialmente, o episódio da conquista esportiva como ILUSTRAÇÃO para NÃO DEIXAR PASSAR EM BRANCO essa ótima oportunidade de se discutir várias GRANDES QUESTÕES que as mulheres enfrentam no Brasil de hoje (não só no Brasil e não só hoje).

O texto nos fala de uma grande polêmica, atual em nosso país desde o século XIX, que é a legalização do aborto. Uma questão que tem em sua espinha dorsal a questão de gênero, tanto é que o atual e atuante ministro da saúde do Brasil, em sua empreitada para pelo menos trazer esse tema à tona, não usou de meias palavras ao afirmar que: “se homem engravidasse, seria a favor do aborto”.

O texto também falou da diferença brutal entre a remuneração salarial entre homens e mulheres. Ponto muito pertinente, principalmente quando temos novos números, de novas pesquisas, apontando velhas opressões. Ainda que ajam avanços.

O texto também falou de discriminação nua, crua e cotidiana, que mais da metade da população brasileira sofre, não só por parte do outro como pelos seus.

O texto ainda fala do papel da mulher na política brasileira. Fala da importância da participação e representação feminina nas instâncias do poder. Fala da fundamental atuação dentro de campo, da Marta (não a do futebol, mas nossa ministra do Turismo), se não como real candidata, ao menos como nome expressivo que disputa a candidatura à presidência de república de um dos maiores partidos do país; e de um partido progressista, vale pontuar, o que faz desta algo muito distante da candidatura Roseana/2002. Só a disputa já é um acumulo.

E o texto não falou, mas poderia ter falado de jornada tripla, de violência doméstica, de sexualização publicitária, de prostituição (infanto-juvenil ou não), das crianças monoparentais, e outros e outros temas que as comentaristas poderiam enumerar com muito mais propriedade do que eu.

Não falou, mas tudo isto está lá. A discussão foi lançada e a oportunidade não deve ser desperdiçada. Não concordo com que deixemos o post, de nosso colega, passe como apenas mais um festejo passageiro, como vimos muitos outros, de uma conquista individual ou de um pequeno e seleto grupo.

É uma conquista sim. Marta, suas colegas e todas as brasileiras, têm que se orgulhar sim. Mas como disse o autor “que esse orgulho sirva (infelizmente) para expor, ainda mais, o caráter machista do brasileiro”.

10 comentários:

Sávio disse...

Não que os comentarios a meu post nao tenham sido validos, foram e muito. Só de expressar nossa alegreia com aquelas jogadoras que nao recebem o incentivo e respeiro que merecem já é que grande valia. Era um dos objetivos de meu post. Mas, agora com este novo texto do colega eu posso dizer: fui totalmente compreendido

N. Real disse...

Meninas,
Vocês podem ter perdido a Copa do Mundo, mas são campeãs em nossos corações!
Valeu.

LOUISE disse...

Concordo plenamente quanto ao aborto. Todas nós mulheres deveriamos parar p pensar no tema n como uma decisão pessoal de fazer o n fazer, mas como uma necessidade social!!! Sei que esse n era o tem do post, foi só p constar mesmo!! Bacana demais o blog mesninos adorei! BJO

Carol disse...

Claro, Nilo... vc tem toda razão em chamar a atenção para essa discussão.
Concordo muito com o Sávio, mas acho que muitas vezes a discussão de gênero acaba perdendo força justamente em função dos movimentos de gênero. O grande erro das feministas foi reivindicar IGUALDADE; afinal, não somos mesmo iguais. Os direitos precisam ser diferentes. Por outro lado, somos todos mão-de-obra e mercadoria. Se se confere à mulher o direito à licença maternidade de três meses, o empresariado deixa de contratar mulheres, simplesmente; ou usa isso como argumento para pagar menos a ela.
Mais machista ainda. Tipo: "só não fodam minha mãe e minha irmã"...
Pra algumas coisas, concordo que as soluções são mais fáceis, como o aborto. Mas para os direitos trabalhistas, fico pensando por onde começar...

Sávio disse...

Carol, com certeza o problema é bem maior. Tambem ja me questionei varias vezes sobre a postura de alguns movimentos feministas. Os primeiros que conheci, sinceramente, achei com um discurso bem no sentido que vc disse. Depois ate conheci movimentos que nao querem inverter o machismo, e sim acabar com ele. Nesse sentido apoio sem duvida suas lutas. O caminho é bem complicado mas o objetivo realmente é deixarmos de ser "mao-de-obra e mercadoria", ate la...

Sávio disse...

Mequinha, esse é um dos temas sim. Temos que ouvir mais as mulheres sobre estas questoes, inclusive o aborto. Vc pode colaborar tb no post da censura, onde ta rolando um debate sobre livro didatico, professores, historia, etc.. De sua colaboraçao de historiadora. Valeu!

Anônimo disse...

Luciano Huck foi assaltado e não ganhou um post?
Tô bege!
Ele vai sentir vergonha desse blog!

nilo disse...

Quem achou que esse blog ia se calar diante do drama do apresentador global, estava enganado.
Para não passar em branco deixo aqui trecho publicado de uma carta enviada à Folha de São Paulo pelo cantor Zeca Baleiro.
Para quem não esta a par do ocorrido, Luciano Huck após ser vitima de assalto em SP, fez publicar um artigo de sua autoria em diversos jornais. Um deles, F.S.P. publicou hoje, a resposta do Zeca:
"A nossa elite (se é que merece ser assim chamada) é mesmo patética. Só mostra indignação com a situação do país quando tem o seu Rolex roubado.
Queria ver Luciano Huck escrevendo um texto tão indignado caso presenciasse uma chacina no Capão Redondo."
ZECA BALEIRO, músico (São Paulo, SP)

Anônimo disse...

Parabens pela levantada de bola, NILO. Acredito que voltar com temas já tratados mas que devem ser melhor enterpretados ou discutidos e de suma importancia para a dinamica proposta pelo blog. Temos muito que discutir mais temas importantes devem ser revistos.

nilo disse...

O caso do relógio rendeu na Folha. Segunda o Férrez, escritor e morador de Capão Redondo, publicou um artigo.
Segue abaixo um trecho:

"...Estava decidido, iria vender o relógio e ficaria de boa talvez por alguns meses. O cara pra quem venderia poderia usar o relógio e se sentir como o apresentador feliz que sempre está cercado de mulheres seminuas em seu programa.
Se o assalto não desse certo, talvez cadeira de rodas, prisão ou caixão, não teria como recorrer ao seguro nem teria segunda chance. O correria decidiu agir. Passou, parou, intimou, levou.
No final das contas, todos saíram ganhando, o assaltado ficou com o que tinha de mais valioso, que é sua vida, e o correria ficou com o relógio.
Não vejo motivo pra reclamação, afinal, num mundo indefensável, até que o rolo foi justo pra ambas as partes."

REGINALDO FERREIRA DA SILVA, Ferréz