sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Isso Vale?


Vivemos um momento particular no que se refere à relação entre governo e sociedade. Deixemos de lado a imprensa, que vem sim intensificando a freqüência e intensidade de suas tentativas de influenciar no nos rumos da nossa política. Outros atores que até agora se comportaram de forma muito mais discreta, estão dando as caras, tentando aproveitar de determinada conjuntura tendo em vista tal ou qual objetivo.

Nenhum problema quanto a isso. A sociedade deve sim se organizar e manifestar seus interesses. Brasília está constantemente em disputa (não só no período eleitoral) e se o povo não envia seus “lobbystas”, os que defendem interesses contrários aos do povo não deixaram de enviar. É um cabo de força onde cada lado tem seu próprio meio de pressão (manifestações e festinhas em cabarés). A história recente nos mostra que se o povo não disputa um governo, e aguarda que seus interesses sejam defendidos de cima para baixo, por vezes pode se frustrar.

De acordo com as ações, questionemos os métodos. Duas relevantes mobilizações que estão em andamento nesses dias, mesmo sendo coordenadas por setores um tanto diversos da sociedade, lançaram mão de estratégias que na prática são no mínimo próximas.

De um lado um abaixo assinado, do outro um plebiscito. De um lado a lista disponível em um site na internet, do outro as urnas nas portas das igrejas. Dos dois lados palavras de ordens e falta de discussão.

Quem quer acabar com a CPMF? Quem acha que pagamos muitos impostos? Quem quer pagar menos? Concorda? Assine aqui por favor.

A Vale é nossa! É do Brasil! Foi roubada do povo! Você a quer de volta? Um “x” aqui e deposite naquela urna.

Sem entrar nos méritos do conteúdo das campanhas, só o fato de serem coordenadas por atores opostos e caminharem de forma tão parecida deveria levar suas coordenações à reflexão.

A causa é justa? A pressão é válida? Independentemente não se pode instrumentalizar assim, em prol dessa causa/pressão, a assinatura ou a cédulas de milhares ou milhões de cidadãos que não fazem idéia de por onde passa a questão. A discussão tem que ser feita, a informação tem que ser levada. É claro que a construção de um processo informativo é mais complexa, e é para ser mesmo. Mas isso não compromete sua viabilidade, de forma oposta, o atropelo desta etapa é que pode comprometer a legitimidade do processo.

Nessa semana o congresso recebeu seis carrinhos de supermercado com as mais de um milhão de assinaturas contra a CPMF. No dia 25, será levado a Brasília o resultado do plebiscito pela reestatização da CVRD. São dois grupos diferentes, agindo por fins (nem sempre explícitos) diferentes. Mas e os meios? São plenamente justificáveis?

Um comentário:

Sávio disse...

Bela reflexão. Acredito que nos dois casos os objetivos e interesses de classe são claros. Devido a isso suponho que o meio utilizado tenha sido mais "simplista" e tendencioso. No plebiscito da Vale a discussão não alcançou o nível esperado, embora o fato tenha sido de extrema importância. Além disso, as perguntas eram totalmente tendenciosas. Com a CPMF a mesma coisa, os autores do abaixo assinado não debateram como o recurso é gasto e necessário ao governo. São contra porque é mais um imposto e que no caso proporciona o governo realizar seus feitos. Portanto embora os meios não determinassem privilegiar, a meu ver, o embate de idéias, serviram como forma de pressão. E acredito ter sido esse o objetivo, e não um debate de idéias de forças opostas. No caso do abaixo assinado mais covarde, porque parte de um senso comum onde todos querem pagar menos impostos. Como disse é uma disputa de classe, por isso votei no referendo da Vale e não assinei o abaixo assinado da CPMF.