quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Sempre é bom olhar para o retrovisor.



Todos acompanhamos curiosos o julgamento do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ontem. Só curiosos, porque atentamente foi impossível. Tudo se deu no apagar das luzes de uma vergonhosa sessão fechada. Não bastasse isso teve até quebra pau entre deputados e seguranças, uma péssima imagem para o poder legislativo. Devido a imensa cobertura da mídia sobre o resultado, as repercussões, seus desdobramentos e as supostas etapas posteriores, penso não ser necessário tecer mais extensos comentários, mesmo porque as conclusões levam a um só sentido: foi só o primeiro dos vários processos que o senador vai enfrentar, a casa é totalmente corporativa, o senador perdeu a capacidade política de dirigir o congresso e na hora que estão em evidencia todos os senadores e senadoras são um princípio de transparência, condenando a sessão e o voto secreto. Não teve um ou uma capaz de defender. Sobre este ponto que chamo a atenção, será que sempre foi assim?

O interesse da imprensa em derrubar o senador Renan Calheiros é explicito. Ele não é fruto somente de uma imprensa investigativa, compromissada com a verdade, mas também (e mais ainda) de uma imprensa rancorosa e que faz sua clara opção de classe. Muito antes de Renan miram em Lula. Não que eu ache que o senador é inocente, não me cabe julgar isso, como não cabe também a imprensa, o que me instiga é que o senador contempla uma das formas mais arcaicas e conservadoras de fazer política, tendo com base o coronelismo, a troca de favores e o desrespeito com o bem público. Nunca é demais relembrarmos o passado desse senador: foi um dos homens da tropa de choque em favor do então presidente Collor. Mas vale lembrar também que a grande mídia deseja a cabeça do presidente Lula, e só este fato explica seu massivo interesse e "compromisso". Devido portanto a essa grande cobertura e exposição todos querem aparecer e externar seus princípios de São Francisco de Assis. Continuemos lembrando, agora a posição de algumas pessoas e alguns grupos em relação ao voto e a sessão fechada.

Em 2000 o senador Tião Viana (PT-AC) apresentou uma emenda constitucional propondo o voto aberto para todas as ocasiões do legislativo, tanto para senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores. A proposta, votada em 2003, foi recusada. O único partido em que TODOS os senadores votaram contra foi o PSDB. No PFL (atual DEM) foram 13 senadores que votaram contra e somente dois a favor. Para refrescar ainda mais a memória cabe relembrar as palavras do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), atual líder do partido:
“O voto secreto é um instrumento que deixa o parlamentar, seja senador, deputado federal ou estadual ou vereador, a sós com sua consciência, em uma hora que é sublime, em que vota livre de quaisquer pressões”, declarou o tucano.

“Votarei a favor da manutenção do instituto do voto secreto, que, a meu ver, tem muito mais méritos do que deméritos”.´

Hoje é censo comum que o voto secreto é prejudicial a democracia. Claro que se a sessão e a votação fossem abertas o resultado seria diferente. Agora cobrar isso só nas situações que convém??? Só quando querem derrubar um opositor??? Ou quando toda a mídia está de olho??? Infelizmente isso não causa nenhuma surpresa, mas serve pra reflertimos quantos Renans temos no Senado, quantos congressistas precisam do Conselho de Ética. Ou tem outro nome pra tanta demagogia? Mais um exemplo que nossa direita não é nem nunca foi confiável. Temos que ficar atentos, e sempre com um olho no retrovisor.

Nenhum comentário: