segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Os números do Brasil.



Saíram na semana passada os números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), pesquisa anual do IBGE. O resultado é relativo ao ano de 2006 e comparado à mesma pesquisa de 2005. Vários são os temas abordados, e a melhora dos itens é visível na grande maioria deles. Vamos a alguns números: o emprego com carteira assinada cresceu 4,7%, com o desemprego caindo 8,3%, a renda do trabalhador cresceu 7,2%, acompanhado do aumento da renda média das famílias em 7,6% sendo o aumento da inclusão previdenciária de 3,7%. Em 2005 18,6% dos domicílios tinham computdor, este número passou para 22,4% em 2006. Na área social mais avanços, a mortalidade infantil caiu 1% (foi de 5,6% em 2005 para 4,6% em 2006), o analfabetismo teve redução de 4,2% e o número de estudantes universitários cresceu em 13,2%. Muitos números, algumas conclusões.

A primeira delas, não chega a ser uma conclusão, mas um uma premissa, é que os números são apenas parâmetros e não podem ser levados ao pé da letra. O número, o cálculo, são ciências exatas, e neste caso estamos falando de seres humanos, seres sociais. Confesso, tenho receio de números, embora saiba de sua importância.

Uma conclusão que já era clara e os números evidenciam é que o país melhorou. Impossível desconsiderar isso. E melhorou em camadas específicas da população, as camadas inferiores. Mágica? Não, prioridade. A política tem um princípio básico: a disputa de interesses, que leva a uma palavra chave, prioridades. Isso que incomoda, que causa o repúdio das elites. O Governo Lula é passível de algumas críticas, principalmente no que tange o meio para alcançar os objetivos, mas é difícil criticar suas prioridades relacionando-as com as possibilidades de serem alcanças.

Uma reflexão mais aprofundada poderia discutir se essas mudanças são ou não estruturais, não tenho a pretensão de fazê-la aqui, mas posso deixar uma rápida opinião. Mudanças estruturais podem se dar através das armas ou gradativamente através de prioridades. Eu acredito na segunda. Para isso o princípio de tudo deve ser a autonomia e a soberania do povo pobre desse país, construída na democracia e no fortalecimento e democratização das instituições. A educação política, a consciência de classe só será alcançada no dia que o pobre não depender mais de favores para comer, para se manter (e no caso não entendo bolsa família como favor, mas como política pública necessária), e sim do produto do seu próprio trabalho. Esse primeiro passo acredito ser o mais demorado e doloroso, mas é o baluarte da estrutura. Com ele bem assentado as mudanças mais profundas serão possíveis.

Esse início está engatinhando no Brasil, e tem tudo, a médio prazo, para se consolidar. Isso são prioridades, e prioridades louváveis do Governo Lula, do Governo do PT. Esse processo podia ser menos doloroso, com algumas atitudes mais ousadas, como a regulamentação da mídia, a democratização do judiciário, a baixa nos juros e no superávit primário, o aumento de investimentos na reforma agrária, a revisão das parcerias público-privado e uma pressão maior para aprovar a reforma política, para citar alguns pontos. Não podemos perder estes horizontes de vista. Cabe aos movimentos sociais, as organizações e partidos progressistas sempre tencionar nesse sentido, mas nunca perdendo de vista quem realmente temos que combater.

O Governo inegavelmente constrói uma política de esquerda, negar isso é negar a autonomia e a alta estima do povo brasileiro. Setores que se mascaram em um radicalismo vazio (porque o radicalismo por si não é um mal) não têm a compreensão de um processo de mudança, um processo histórico. Pressionar, contestar, sempre, mas como o objetivo traçado e o discernimento dos agentes e desafios a alcançar.

O PNAD do ano que vem sem dúvida será ainda melhor, basta olhar o orçamento para 2008. Este ano as obras do PAC e os projetos do PDE já estão em execução. O PIB deve crescer na casa dos 5%, e a distribuição de renda tende a aumentar. Os números, apesar de serem números, estão ai para quem quiser ver. Tem muita gente que não quer, para eles eu só lamento....

Um comentário:

nilo disse...

O grande problema dos números não está na essência da pesquisa quantitativa, mas sim na relação que nossa sociedade trava com seus reultados. Diferentemente da pesquisa qualitativa, onde o pesquisador explicita sua intermediação no processo, as estatísticas são interpretadas por nós como verdades absolutas.
Aguardo ancioso por "uma reflexão mais aprofundada [a qual] poderia discutir se essas mudanças são ou não estruturais".
E que suas expectativas para 2008 se concretizem.
um abraço.