quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O assunto rendeu....




A matéria de capa da revista Carta Capital dessa semana traz novamente a polêmica sobre o livro didático Nova História Crítica (NHC) de Mário Schmidt. Também aqui no blog (post Censura!) esse assunto gerou debate. A obra foi retirada da lista de livros do MEC em abril. Segundo a revista os itens que o ministério aponta onde o livro não é satisfatório são questionáveis, tendo outras obras, que foram selecionadas, problemas ainda maiores. A exclusão é mais relacionada a lobby e interesses do mercado. Sugiro para quem não pegou o início da polêmica que entre no link anterior. Nesse post pretendo primeiro recomendar a leitura da revista e de um artigo do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP) que pode ser lido aqui.

Essas duas leituras (principalmente da revista) são bastante relevantes. Sendo assim tomo a liberdade de exaltar alguns pontos:

Primeiro: o jornalista Ali Kamel é um fascista transfigurado de intelectual. Ele não entende nada de educação, muito menos de livro didático. Mesmo assim sente-se a vontade para impor uma censura. Mesmo porque não conheço outro nome pra isso. Ele é um moleque de recados do capital estrangeiro e da elite nacional. O mesmo grupo que “se preocupa com a educação das crianças, com o que elas estão lendo” com o objetivo de censurar o livro, é o grupo que não aceita a indicação classificatória da tv. Cadê a coerência? Ta bom, não esperava encontra-la aqui. Não foi devido a suas críticas que o governo deixou de adotar o livro, essa decisão foi anterior, mas o uso de um grande meio de comunicação para desqualificar a obra ajuda a formar um censo comum em uma sociedade não acostumada a questionar, onde o que o jornal diz vira “verdade”. Achei que o terror com o comunismo já tinha passado, doce ilusão.

Segundo: O interesse econômico no mercado de livros didáticos é evidente. O Brasil é o maior mercado do mundo nessa área. A editora Nova Geração, que publica o livro de Schmidt, é uma das poucas que ainda não se renderam ao capital internacional. A maior parte das editoras do ramo tem investimento estrangeiro. A editora Moderna, concorrente da Nova Geração, é controlada pelo grupo espanhol Santillana. Este mesmo grupo controla também o jornal espanhol El País, que não por coincidência publicou uma reportagem no dia 19/09/2007 com o titulo: “Brasil entrega a 750.000 estudiantes un polémico manual de historia”. “El libro de texto ensalza el comunismo y la revolución cultural china”. Este mesmo grupo tem como consultor o ex-ministro da Educação e atual deputado federal Paulo Renato (PSDB-SP). Lobby dos grandes, ele conhece a máquina como pucos. Ou seja: claro que NHV, que vendeu cerca de 10 milhões de exemplares, ia tomar paulada de todos os lados. O capital estrangeiro não pode se dar ao luxo de perder uma bocada dessas. Ainda sobre a questão econômica falar que livro marxista não tem que entrar no mercado, ou que o autor está bravo porque deixará de lucrar e isso é uma contradição, sinceramente, é vazio, pra usar um termo mais sutil. Além de menosprezar anos de trabalho e pesquisa é dizer que marxista tem que fazer voto de pobreza. Um velho discurso conservador. Socialismo não é dividir pobreza. Podia argumentar mais sobre isso, mas por ser uma discussão tão batida não vejo essa necessidade.


Terceiro: sobre o conteúdo do livro. Como disse antes: todo livro é parcial, as diferentes vertentes da história “escolhem” suas verdades, não existe livro perfeito, o livro didático não pode ser seguido à risca. Na minha visão, que evidentemente é formada também por uma posição política, NHC é um bom livro. Não é panfleto marxista, é um livro marxista. Mostra as mazelas do chamado comunismo real. É sim uma obra que assume uma postura crítica da sociedade, leva o aluno a pensar, refletir. Isso desperta o aluno a questionar as coisas, a não aceitar tudo que lhe falam, inclusive o próprio livro.


Quarto e último: o professor. O professor é parcial, tem que assumir isso com honestidade e profissionalismo. Honestidade para dizer aos seus alunos que é um sujeito político, que tem uma posição e que a história não pode fugir disso. Profissional no sentido de respeitar opiniões diversas, provocar a discussão, assumir erros, ser crítico, não mentir nem omitir e ser o moderador do conhecimento. O professor não pode ser refém do livro, ele é um agente ativo na sala de aula. Ao falarem dos erros de NHC parece que o professor é um 2 de paus que está em sala como um mero objeto. Os livros didáticos adotados no Brasil passam pela seleção de profissionais do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Depois disso é elabora uma lista das obras aprovados, assim os professores da rede pública podem escolher os que vão adotar. Aqui, a meu ver, é o ponto central. Totalmente compreensível à indignação de Mário Schmidt ao ver que sua obra foi reconhecida por quem realmente deveria ser: os professores e os alunos. Ele é portanto vítima de uma perseguição política e econômica. Insisto: será que só a frustração financeira (é claro que ela ocorreu) é responsável pela revolta de Schmidt? O Sr. Ali Kamel, não tem autoridade para questionar a escolha dos professores. A autonomia do profissional da educação tem que ser colocada em primeiro lugar. Se a grande maioria destes profissionais da educação escolheu NHC é porque o livro tem seus méritos. Acho errada a posição do MEC de excluir esta obra da lista. Acho errado diminuir a posição de milhares de professores a um “panfleto”. Acho abominável a posição do jornalista em tentar censura a obra, usando um grande meio de comunicação totalmente atrelado ao capital estrangeiro. Aqui o que menos importou foi a educação de nossas crianças.

2 comentários:

Jayme disse...

Caro Sávio, assumo que de forma compulsiva fiz duras críticas ao livro de Mário Schimidt. No entanto, como havia falado no primeiro comentário, não tinha lido a reportagem de Ali Kamel. Mas, agora venho expor minha opinião sobre o assunto de maneira mais calma.
Nova História Crítica, por minha análise acho que tem muitos erros, não distante da maioria dos livros diáticos. Porém, fazer disso uma reportagem reprimindo o livro como catecismo Marxista e que deve ser abolido, foi de certa forma tão alienante como o que ele acusa.
Por outro lado, Mário Schimidt num livro para o ensino médio coloca um assunto esquecido. Se trata do ISEB(Instituto Superior de Estudos Brasileiros). Aqui Mário o contextualiza, mas faz uma interpretação errada, esquecendo essencialmente o principal fundador do grupo. Mas por que eu ficaria preocupado com isso?
Porque se trata da minha pesquisa em História, onde vou ficar dois anos desenvolvendo minha monografia, um trabalho árduo não.
Enquanto ao Existencialismo que influenciou o ISEB, Mário faz um pequena nota no livro deprezando-o e o descaracterizando com ironias.Nem por isso vou fazer o que grande Ali Kamel fez.
Portanto, Nova História Crítica é um livro reflexivo, infelizmente sua interpretação é totalmente Marxista, pois acredito eu que ele poderia abrir espaços pra outros tipos de interpretações. Porém Aboli-lo e colocá-lo dentre as obras do INDEX, é uma burrice ditatorial.

Sávio disse...

Ok Jayme, entendo seu ponto de vista e respeito, embora nao concorde.Que o livro tem erros é evidente, mas como vc e eu dissemos todos tem. Que na parte da sua pesquisa ele tambem seja falho isso traz uma repudia maior a vc, o que é natural. Agora imagina o tanto de pesquisas que existem na Historia? será que algum livro consegue abordar todas? e com exatidao? mas como disse é natural que vc preste mais atençao ao seu objeto de estudos. Quanto o posiçao do Kamel tambem nao existe discordancia. Sao dois os pontos que sempre quis destacar:
1- nao vejo problema do livro ser uma abordagem marxista. Na verdade problema nenhum. Isso é uma opçao de linha teorica e politica. Eu nao nego virtudes em um livro que tenha mais de uma linha de interpretaçao, pode sim ser valido, mas isso nao esconde o posicionamento politico e ideologico da obra, seja ela qual for. Vc afirma que:"infelizmente sua interpretaçao é totalmente Marxista". O marxismo, a meu ver, continua sendo a linha mais coerente.
2- o livro era o mais adotado pelos professores de escolas publicas. Impossivel nao ver seus meritos. Nao que a maoiria leve a perfeiçao, mas estes professores foram, no minimo, desautorizados pelo MEC e desrespeitados pelo Kamel e por todos que entendem a obra como "catecismo comunista". Como já disse considero o NHC um bom livro, principalmente porque partindo do conteudo ele leva o aluno a reflexao, a questionar, objeto maior da Historia que eu acredito. Sao opçoes, linhas diferentes de entender a Historia, como disse no começo, nesse ponto nao concordamos.