sábado, 20 de outubro de 2007

As Centrais Sindicais.


Em uma semana que a Câmara "reconheceu" as Centrais Sindicais, tornou o Imposto Sindical facultativo e condicionou as contas dos Sindicatos a fiscalização do TCU vale a pena esborçar um novo cenário do sindicalismo no país. É bom lembrar que as decisões da Câmara ainda tem que passar pela aprovação do Senado.

Está marcado para o dia 12 de Dezembro, em Belo Horizonte, o congresso de fundação da Central dos Trabalhadores do Brasil – CTB. O surgimento de mais esta Central tem interesses claros e gera algumas reflexões. O CTB é uma fusão, principalmente, da Corrente Sindical Classista – CSC (braço sindical do PC do B) e do Sindicalismo Socialista Brasileiro – SSB (braço sindical do PSB). Estes dois partidos seguem o exemplo do PDT, que controla a Força Sindical, e do PSTU e PSOL, que mantém o CONLUTAS. Sendo assim o movimento sindical brasileiro possui pelo menos sete Centrais Sindicais de trabalhadores, tendo além das três supracitadas, a CGTB, a NCST, a UGT e a CUT, que ainda é a maior delas. Colocando em pratos limpos os “Partidos de Esquerda” do Brasil decidiram cada um manter sua Central.

A Central Única dos Trabalhadores foi criada em 1983. O movimento sindical contribuindo consideravelmente para o fim da Ditadura Militar, saindo fortalecido e unido. Desde então a CUT é um importante instrumento da classe trabalhadora. A meu ver o problema das diversas Centrais Sindicais é não entender a disputa de forças dentro da CUT. Todas estas demais Centrais já foram correntes internas dela. É fato que o PT mantém sua hegemonia na direção da entidade desde sua fundação, mais isso é motivo para a fragmentação? Alguns acreditam que sim, já que os demais Partidos que perderam espaços dentro da CUT resolveram criar suas próprias Centrais.

O pluripartidarismo impõe um “pluricentralismo”?

Acredito ser extremamente saudável o pluripartidarismo no país. Até mesmo a heterogeneidade das esquerdas, tanto criticada, eu vejo com bons olhos. Não existe UMA esquerda, os programas e ideologias são diferentes e isto não é privilegio do Brasil. Entendo que o objetivo é muito próximo e que é papel das esquerdas saber identificar os inimigos, os momentos históricos e lutar por suas bandeiras. A sabedoria vem de saber as condições de estarem juntos, esta união dos progressistas não implica Partido Único. Ainda bem. Outra coisa totalmente diferente é a expansão das Centrais Sindicais. Estas não são Partidos políticos e sim movimentos sociais, representantes de classe. Não são formadas apenas por integrantes de Partidos, embora não possamos negar suas influencias, apesar desse ponto ser polêmico e não ser aceito por alguns. A ligação com os Partidos tem que ser estratégica, e não uma relação de submissão. O sindicalismo tem que ser independente de qualquer Partido ou Governo. Com este pensamento foi criada a CUT.

Para atentarmos somente as exemplo da CTB, o PC do B vem sendo há bastante tempo à segunda força da CUT. Não aceitando essa condição resolve romper. Evidente que essa atitude está ligada ao “Bloco de Esquerda” formado também por PSB, PDT e outros partidos nanicos (de esquerda???). Este bloco pretende disputar força na coalizão do Governo para impor seu candidato, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), como candidato do Lula nas eleições presidências de 2010. Para isso acreditam que manter uma Central própria pode ajudar em uma futura disputa com o PT. Pensamento perigoso, e que coloca em segundo plano a questão sindical.

Se a disputa de forças fosse razão para a distensão a UNE, que tem o comando do PC do B há mais de 15 anos, já estaria fragmentada. Porém o PT e outras forças presentes na UNE não o fizeram. Isso por compreender o papel histórico e a importância da instituição na representação da classe estudantil.

Desse modo considero errada a criação da CTB. As Centrais Sindicais estão virando setoriais dos Partidos fazendo a unidade do movimento ficar comprometida. Não posso questionar a legitimidade das demais Centrais. Mesmo assim a CUT, por sua história e tradição de conquistas devia continuar sendo o aglutinador da classe trabalhadora. Se a discordâncias internas que sejam resolvidas lá dentro, se os caminhos que a CUT tomou nos últimos anos são discutíveis (não é o questionamento da CTB) que as mudanças sejam propostas lá dentro. Vale lembrar que a CUT não ficou satisfeita com as últimas votações na Câmara, e vai lutar para que no Senado as mesmas condições que serão exigidas para os trabalhadores sejam válidas também para os patrões. Se a moda de sair criando outras entidades pegar quem sai perdendo são os movimentos sociais.

Um comentário:

nilo disse...

Essa prática separatista não é exclusividade dos movimentos sociais. Na política e na religião temos uma vasta lista de exemplos que se assemelham. Entre a disputa da entidade que está consolidada e a criação de uma nova instituição, muitas vezes a segunda opção é a eleita.
Acho díficil generalizar. Cada cojuntura deve exigir uma postura adequada. Devem haver casos onde a disputa é vantajosa e casos em que a instituição é caso perdido.
Um exemplo extremamente relevante a esse respeito é o caso das desilusões petistas. Quando e porque chega a hora de abandonar o barco?
As disputas e divergências, oxalá, sempre existirão. Mas em que momento se tornam prejudiciais e insustentáveis?