quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ir e vir direito.




Em Paris, desde julho, moradores e turistas têm uma nova opção de transporte público. Conhecidas como Velib (velô en libre service, ou bicicleta em serviço livre), as 20 mil bicicletas públicas colocadas à disposição da população, em 750 estacionamentos especiais espalhados pela cidade, podem ser alugadas por fração de hora, por dia, por semana ou por mês.

A iniciativa da prefeitura faz parte de uma empreitada contra os problemas de trafego na capital. Além de ser ecologicamente correto.

No Brasil, em algumas cidades, vê-se periodicamente o evento conhecido por Bicicletada, que consiste em uma concentração de ciclistas que saem as ruas com o intuito de se fazerem notar, em busca de respeito e espaço no trânsito.

Lá por iniciativa estatal, cá por mobilização social, fato é que tais ações denunciam um caos no transporte urbano. Sim, ele existe, apesar de não vermos muitos segundos dos telejornais dedicados a nos alarmar (e a incitar revolta).

O trânsito se complexifica ano a ano. O número de veículos particulares só faz crescer. E, se algumas cidades lutam com alternativas (investimento em transporte público de massa, bicicletas públicas e até rodízio de carros), outras, em sentido contrário, investem pesadamente em vias expressas para carros de passeio.

Quando se reflete a respeito, tem-se a impressão de que cada vez o buraco é mais embaixo.

Primeiro, em relação as metrópoles e megalópoles, esse enorme acúmulo de pessoas já está errado. Se tomadas sob ótica do cidadão, da família, é extremamente irracional se viver em aglutinações urbanas de 15, 10 ou mesmo 5 milhões de pessoas. Mas sabemos que o que rege o mundo não são questões de qualidade de vida.

Depois, a relação das pessoas (especialmente da classe média) com os carros particulares precisa ser repensada. O automóvel é uma realidade, tem um papel extremamente relevante e não vou taxá-lo de supérfluo. No entanto, conforto, comodismo e outras motivações, provocam uma relação de dependência do veículo de passeio que, quando observado o fator coletividade, deixa de ser racional e até cômoda e confortável. Não ignoro que a falta de uma alternativa de qualidade muitas vezes é decisiva para a construção desse tipo de relação, mas é fato que essa relação existe e se mostra viva mesmo na presença de alternativa.

Estas são questões mais profundas, que podem ou não mudar algum dia, num futuro não muito próximo.

De outro lado, alternativas buscadas por algumas cidades, que ajudam a desmotivar a dependência do carro particular, possibilitam uma razoável melhora na qualidade de vida e são ecologicamente inteligentes, podem e devem ser tomadas por meio de políticas e investimentos diretos, trazendo resultados imediatos.

É imoral, e deveria ser inaceitável, que alguém que vende 8 horas do seu dia para obtenção de seu sustento, disponha de até outras 4 horas se deslocando para o trabalho!

Quando se vive em coletividade, é quase impossível aplicar soluções individuais. Quem pode e quem não pode ter um carro próprio compartilham da má organização do transporte na cidade. Ou você se aperta no ônibus e agarra no congestionamento, ou vai confortável no seu carro próprio e também agarra no congestionamento.

Para se viver em conjunto é preciso de soluções conjuntas. Para se viver em aglutinações de grande porte é preciso soluções de grande porte.

O transporte precisa ser público. O transporte precisa ser coletivo. O transporte precisa ser de qualidade. O transporte precisa ser prioridade.

2 comentários:

Sávio disse...

Até site frances o rapaz colocou. Brincadeira.....

N. Real disse...

Um arquiteto coreano ganhou notoriedade demolindo grandes obras de engenharia (pontes, viadutos), tirando rios das galerias, revitalizando as margens e as cidades.

Enquanto isso, Belo Horizonte se orgulha da Linha "Verde".