sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Outro passo. Sem cuidado aonde pisa.


Na próxima semana, a Universidade Federal de Viçosa, orgulhosamente, estará inaugurando uma nova opção de restaurante em seu campus. Diante da enorme demanda, não sanada, por refeições na universidade, a administração achou uma saída: construiu uma estrutura, abriu licitação e “arrendou” o espaço para uma empresa da cidade.

Com uma atitude assim, com certeza, um passo está sendo dando (não estamos mais no mesmo lugar) a questão é se nos dirigimos para frente ou para trás. E isso depende, é claro, de onde se quer chegar.

Educação, formação e qualificação profissional são metas de qualquer governo, pelo menos enquanto promessa de campanha. Sendo assim, de interesse do Estado, tanto pelo investimento na área social, como pelo retorno em desenvolvimento econômico, o mesmo deve estimular a formação acadêmica e oferecer oportunidades para que este caminho seja trilhado.

Em um raciocínio neste sentido é que se deve basear teoricamente o conceito de assistência estudantil. É de interesse do país que o cidadão estude, no entanto, este mesmo precisa garantir seu sustento. Ao invés de obrigá-lo a fazer uma opção entre trabalho e estudo, ou a comprometer um ou outro (além de outras esferas de sua vida), o Estado dá condições – alimentação, habitação, transporte e digo até remuneração – de ele optar pelo estudo, se formar e qualificar, e só então entrar no mercado de trabalho, mais preparado como trabalhador e como cidadão, pronto para dar retorno pelo investimento feito em seus estudos.

Embora muito diferente da atual realidade brasileira, é importante termos sempre em mente os conceitos teóricos para mantermos a coerência. Assistência estudantil constitui-se , portanto, como dever do Estado e direito do cidadão.

A universidade pública brasileira não mantém isso em vista. Mas não seremos ingênuos de pensar que esta comunga da visão exposta acima, sobre a necessidade e os pressupostos teóricos da assistência estudantil.

Em meio a real restrição de recursos, a Educação e as administrações de cada campus repartem as escassas verbas e fazem valer suas prioridades. Dentre estas não está a assistência estudantil. Não são tidas como fundamental a ampliação de alojamentos, de restaurantes ou subsídio de refeições.

Tal descaso é perfeitamente respaldado quando o aumento de uma taxa, não incomoda a grande maioria do corpo discente. Quando, se por motivo de uma greve, por exemplo, a biblioteca ou o restaurante fecham, também não incomoda (diferente de uma greve no metrô, onde as pessoas realmente precisam daquele serviço). Quando, para evitar uma fila, não se incomodam em pagar um pouco mais.

E o que dizer? “Não vê? Assistência pra quê?”

Quando chegamos a esse ponto, a esse tipo de questionamento, talvez seja o momento de partir para outra questão: quem está entrando em nossas universidades públicas e gratuitas? Certamente o Brasil é feito de mais pessoas que precisam mais de alojamento que de estacionamento.

Desconstruir a assistência estudantil é um passo certeiro na direção da consolidação de que pessoas que necessitam dela, não prossigam em seus estudos. É um passo na direção que exclui um enorme contingente de brasileiros (que não podem deixar de trabalhar) não só da oportunidade de uma formatura, como da oportunidade de uma formação.

8 comentários:

Jayme disse...

A Universidade Federal de Viçosa virou lugar de barganha. O governo Lula não faz nada pra mudar isso, aliás, faz pra piorar, criando um monte de Universidade Federal sem consolidar e reformar as que existem. Já ouvi dizer que o governo tanto FH como Lula não investem noo Restaurante Universitário. Assim, quem financia esse restaurante são as empresas que investem na Universidade de forma indireta.

Carol disse...

Pra mim, parece mais uma solução relâmpago pra justificar a criação de mais novos cursos sem estrutura, pra garantir um pouco mais de verba "por cabeça", como é de costume na UFV (e nas demais federais).
Agora, terceirizar mais um serviço que deveria ser público, é compactuar com o fim dos direitos trabalhistas... (e da dignidade?)

A impressão que tenho é que nossas universidades ficam competindo pra ver qual delas consegue se virar com menos recursos - através de sucateamento e criação de fundações COM FINS LUCRATIVOS. Nesse ponto, a UFMG é campeã, pois acabou se tornando modelo nacional por ser auto-suficiente, em função de taxas semestrais de R$200 e fundações a torto e a direito.

No mais, a desculpa é sempre a mesma: não vai dar pra fazer isso por falta de recursos, vamos ter que cercar nosso perímetro em função dos roubos...
O acesso à universidade se torna cada vez mais restrito até para passeio!
ONDE É QUE FOI PARAR A NOÇÃO DO PÚBLICO????
Será que aceitando essa imposição da falta de verba as universidades não se estão legitimando sua ausência?
E o vestibular não é, por si só, uma competição entre os estudantes para ver quem é o mais merecedor de educação? Não demora muito estamos competindo para sermos os mais pobres e mais esforçados, esses sim mais merecedores de educação...

Educação tem que ser pra todos, e GRATUITA, e de QUALIDADE!
Ou será que vamos ter que competir pra ver quem se dá melhor com a pior educação? Não é um tema pra se pensar em SOLIDARIEDADE ao invés de COMPETIÇÃO???

Sávio disse...

Concordo inteiramente com a Carol (principalmente em relaçao a competiçao), mesmo pq ela questiona a estrutura, as ideias, a concepçao, fazendo o paralelo necessario com a realidade das universidades brasileiras.

Agora, nao acho que o governo Lula nao fez nada pra piorar essa situaçao, pelo contrario. Pensar que tem que melhorar as universidades que ja existem para depois criar outras pra mim é pensar pequeno. Claro que deve se investir nas universidades ja existentes, isso nao se discute.

Porem é muito valido a criaçao de outras(com estrutura, é claro), principalmente pq sao em regioes onde o ensino superior nao chegava e tem existem altos niveis de pobreza. A concentraçao de universidades na regiao sudeste faz com que pessoas que nao tinham a menor intensao de sair de suas regioes venham pra ca, ajudando no problema da assistencia estudantil. Claro que é um problema de governo e que ele tem que solucionar, claro tambem que a interaçao de pessoas de lugares diferentes é boa, mas desde que elas saim de suas regioes por vontede propria, e nao por necessidade.

Ate onde eu sei a verba desta contruçao do restaurante foi liberada em 2003, quando ainda o Cristovam era ministro. Eu estava na palestra onde ele falou que a universidade tinha autonomia para gastar a grana, portanto a administraçao da UFV escolheu fazer um espaço e abrir para licitaçao.

Nao quero negar aqui a responsabilidade dos governos (seja qual for) em relaçao as universidades, principalmente quanto a relaçao de PUBLICO que a Carol levantou. Agora isso é um problema (grave) estrutural que vem de anos e que o governo Lula está sim tentando mudar a logica. Por falar nisso vem ai o REUNI.

Anônimo disse...

BAHH, o REUNI você pegou pesado Savão. Tenho feito pouca leitura sobre o referido decreto de lei, mas pelo que sei não é de todo bom, nem tao pouco a solução para o ensino em nosso país. As vezes trabalhar e discutir questões tao macro como o REUni me assusta e me deixa um pouco engessado. Existem tantos interesses por traz de projetos como esse que dificulta e muito a compreenção total. Tenho um relato. Na FURG apos a greve dos tecnicos, serviços como (oficina de manutenção, limpeza do campus) não foram reestabelecidos, motivo, a maioria dos funcionario se aposentaram e não há pespectiva de concurso publico. Nossa reitoria é seria e comprometida com uma universidade publica, gratuita e de qualidade, mas está sendo forçada a terceirizar este setor. Será a primeira terceirização de nosso reitor, petista filiado e atuante, prof. Cousan, um cara de bem, militante historico do PT em Rio Grande, que como todo ser humano não é perfeito, carregando comsigo "ransos" da unidade na luta. A reitoria se encontra em uma sinuca de bico, entregar estes setores ao setor privado e ir contra tudo que combateram em uma vida de militancia, ou esperar a boa vontade do governo com seus recursos escarsos, para contratar novos funcionarios publicos. Isso é foda cara, sei que o LULA não perdeu seus ideais e nem se curvou ao poder do capital, mas estar em um espaço de poder tao grande(presidencia da repulica)traz encargos imensos. Esta na presidencia e não estar no poder deve ser complicado. O poder em nosso pais está na mão de meia duzia de coroneis e senhores da midia, como chamou o Planet Hemp "O comando Delta", por isso estou convensido de que a transformação que queremos não vira com a eleição de um cidadão de luta e comprometido com o povo sem que este detenha o poder, como é nosso LULA, mas sim com o fortalecimento dos movimentos sociais e das organizações comunitarias, para que estas se apoderem e destitue o poder destinado por todos nós ao comando delta. Nós privilegiados que estudamos ou que ainda estamos estudando no ensino superior temos o dever de valorizar e fortalecer o conhecimento e o poder popular, para que possamos num futuro proximo viver em um país, onde a eleição de um cidadão como LULA será garantia de uma transformação profunda no BRASIL, em direção a tao sonhada justiça social. Não sei se fui claro, ainda estou aprendendo a me expressar pela escrita. Fico por aqui deixando meus parabéns e um abraço para meus amigos-irmãos, Sávio, Nilo e Mateusinho.

Sávio disse...

Querido Kayo, tb nao tenho leitura aprofundada sobre o REUNI. O que posso dizer é a partir de um relato de um prof. aqui das UFMG. Ele nao é petista, alias tem varias criticas ao governo, mesmo assim falou que semana passada os doscentes da UFMG discutiram o projeto. A base deste é criar mais vagas(20% a mais), principalmete nos cursos noturnos, e o importante, tem verba pra isso. Tanto para a estrutura quanto para os profissionais.

Nós todos sabemos que os cursos noturnos sao muito importates para comtemplar as pessoas que trabalham. Como disse isso foi um relato. Nao digo que o governo Lula é perfeito com a universidade, mesmo pq passa longe disso. Mesmo assim tenho a certeza que ele está enfrentando um sucateamento de anos, e nesse sentido tem trabalhado bem.

Jayme Neto disse...

Concordo que o governo Lula não é responsável pelo sucateamento das Universidades. Pois isso foi feito pelo nosso Doutor: Fernando Henrique Cardoso. No mais, sobre Universidade penso diferente. Primeiro: Não é lugar para todos, pois não comporta e não é o seu ideal. O termo UNIVERSIDADE que vem do grego, quer dizer "campus do conhecimento". Assim, entramos aqui pra fazer ciência e dedicarmos ao máximo à isso, pois nossa profissão é estudante e temos que dar valor aos onze mil reias gastos com cada aluno por ano.
Por que faço esta crítica?
Se numa turma de 50 alunos, pode-se tirar dez que façam trabalho competente, não acredito que com a expansão da Universidade haveria muita diferença.
Porém, no ponto ao qual o governo Lula tem investido, construir UNiversidades federais em regiões isoladas, se trata de uma idéia muito importante para desconcentrar o ensino superior do país e ampliar o conhecimento pra áreas que nunca teriam essa possibilidade.
Só que, o Sávio pode falar melhor nesse aspecto, é a forma na qual essas Universidades são criadas e os cursos também. O curso de História da UFV começou com dois professores efetivos senão me engano, hoje é um curso consolidado e respeitado dentro da Universidade e nos parâmetros curriculares do país. Mas se pegarmos os outros cursos criados na mesma época, é visto que, não se desenvolveram de modo que estão enfrentando muitos problemas que impedem sua estabilização.
E por último, acho que é bom fazermos uma reflexão sobre o REUNI, tentam imaginar a bela cidade de Viçosa com um curso de MEDICINA na UFV. Pensem na desigualdade que há como principal ponto de referência as quatros pilastras. Se o governo não tem dinheiro para investir em assistência estudantil, como conseguirá recursos pra montar um hospital universitário, que não deve sair por menos de 2 bilhões de reais.
Portanto, penso que investir em educação para todos não se baseia somente em Universidade, sendo o campo técnico muito interessante para esse desenvolvimento.

N. Real disse...

Quantos comentários enormes!

Como adoro ser do contra, pergunto: Por que não, assistência estudantil somente para quem necessita?

A falta de assistência para os alunos carentes pode ser sim “um passo certeiro na direção da consolidação de que pessoas que necessitam dela, não prossigam em seus estudos”. Mas acho muito mais relevante discutirmos o ingresso dessas pessoas e o ensino médio público no Brasil.

Conhecida a resposta para: “quem está entrando em nossas universidades públicas e gratuitas?” e levando em conta a escassez de recursos das UFs, acho um pouco hipócrita a discussão e os movimentos que reivindicam “assistência para todos”, fim das taxas* etc.

*Não estou entrando no mérito do que é feito com essas taxas, isso sim, eu acho que seria um debate importante.

Beijos amores!

Anônimo disse...

Olá! Fazendo um comentário um tanto já atrasado, eu só queria explicitar que a concessão para uma empresa privada explorar o restaurante construído no mult-inútil que agora é semi-útil não é apenas uma política da reitoria e sim a consolidação da privatização silenciosa que FHC começou...
Pois no governo FHC alguns cargos como cozinheiro, auxiliar de limpeza e vigilante foram extintos, portanto para a ampliação dos serviços só resta terceirizar ou rever a lei.
E assim vamos privatizando as "Universidade Públicas" parte a parte e sem que ninguém dê os devidos créditos que o nosso nobre FHC merece por isso.

Brunerva