terça-feira, 23 de outubro de 2007

Muito caro!


Ontem, segunda 22 de outubro, teve início a programação da 76ª Marcha Nico Lopes. Este ano o evento se compõe das mesas de debates e exibição de filmes, do bem sucedido festival de bandas e da Marcha em si, que encerrará as atividades no dia 27, próximo sábado.

O que não fará parte da programação 2007 é a tradicional concentração após a Marcha. A Marcha será o fim e não haverá aglutinação estudantil em nenhum ponto.

Tal fato deve-se a incapacidade financeira do Diretório Central dos Estudantes (DCE) de bancar o evento, visto que a possibilidade de custear o mesmo através de arrecadação com consumo no local, fica impossibilitada uma vez que a opção da massa é investir seu capital e sua disposição para consumir nos “blocos de abadá”.

Não se trata aqui, de romantizar a Nico Lopes. A festa já passou por diferentes momentos desde sua origem a década de 40. Começou como uma caminhada rumo ao bar e já foi uma micareta com direito a trio elétrico de axé music. Logo, Nico Lopes não é resquício de “cultura regional” intocada (porque isso não existe), e não deve ser posta em redoma de vidro ou qualquer tipo de bolha que a preserve de intervenções (porque isso não é possível).

Porém, se por um lado o debate sobre preservação cultural não pode passar pela preservação total e completa, isto pela própria natureza dinâmica da cultura, que nada mais é do que a vivência natural, da prática em questão, pelos indivíduos; por outro, chega a ser hipócrita sugerir alguma coisa parecida com uma teoria de livre mercado, onde o “diálogo” saudável entre duas culturas levaria ao ajustamento perfeito.

Todo diálogo como esse é sim uma barganha, onde cada parte influencia a outra e assimila um tanto da influência. É como uma brincadeira de “cabo de força” (onde duas forças presas a uma corda disputam em sentido contrário), só que, no caso, entre forças extremamente desiguais.

Há quem acredite na resistência natural da cultural popular, acredite que independente de poder econômico, de império cultural, de indústria de entretenimento, a cultura popular sobreviverá.

Não tenho essa fé e essa certeza quando vejo o massacrante avanço da arte-economicamente-interessante sobre a diversidade.

Acredito, portanto, na necessidade de reação e, para tanto, enxergo dois caminhos. Um de cima pra baixo e um de baixo pra cima. O primeiro através de financiamento (estatal ou não) de incentivo a cultura, afinal ser socialmente responsável está na moda; o outro é o da resistência popular, onde quem gosta, acredita e defende aquela cultura, não se rende e não se cala. Difícil dizer qual o caminho mais fácil.

Quanto aos “blocos de abadá”, nada contra festas com bebidas liberadas. Por outro lado, tudo contra esse tipo de prática oportunista, que em busca de lucro, asfixia manifestações populares, da Nico Lopes ao Carnaval de Salvador.

Viçosa, e todo lugar, já teve grandes festas deste tipo, que lucra com uma demanda que existe de fato, e que se fizeram por si próprias sem o sacrifício de outrem.

A responsabilidade desse oportunismo, os promotores das festas compartilham com cada um que compra um abadá.

2 comentários:

Unknown disse...

Em pensar que eu e o pessoal da ambiental já ganhamos muita cerveja protestando na Nico Lopes. Hoje em dia o pessoal só sabe falar desses blocos que vai "bombar"... muito triste! Bem, mas as coisas mudam, realmente, precisamos é fazer com que elas mudem pra melhor... pena que nem todos pensam assim...
Abraços galera e parabéns pela iniciativa!
Marmota

Jayme Neto disse...

Legal esse questionamento. Mas, o que seria cultura popular? Uma cultura criada antigamente e que poucas pessoas defendem, ou uma cultura que as pessoas se inserem hoje. Acho que o grande problema está naquestão chamada cultura de massa. Essas terríveis e irracionais micaretas fazem parte deste contexto. As pessoas que vão à essas festas, não pensam porque vão pra lá, como foi dito, deve ser porque está na moda. Isso nos mostra como nossa sociedade, também a Universitária está assolada de mediocridade.
Numa citação a Artur da Távola: "quem tem vida interior jamais padecerá de solidão". A maioria das pessoas que vão às micaretas pensam em conquistar, beijar e agarrar o máximo de mulheres ou homens. Assim, tentam preencher o vazio na qual convivem no dia-a-dia. Nesse sentido, quem promove essas festas aproveitam para ganhar muito dinheiro às custas da irracionalidade dos participantes desse jogo. As pessoas vão, bebem, escutam música ruim(interpretação pessoal) e acham que ficaram marcado para História com aquelas rupas brilhantes e rídiculas.
Perdão pela forma compulsiva de escrever, mas foi um desabafo mantido há tempos sobre essas micaretas.
Por outro lado, quando o Nilo falou que precisa investirmais em cultura, lembrei que vi uma reportagem numa Revista chamada Sociologia, dizendo que no Brasil se gasta mais com Cultura do que com Educação. Portanto, penso que seria essencial investir mais também em educação de qualidade, na qual os alunos aprendem e criem culturas novas e não fiquem reproduzindo essa bobajada da mídia.