quinta-feira, 27 de setembro de 2007

No país do futebol....


No país do futebol hoje é dia de alegria. A seleção feminina venceu a semi-final da copa do mundo, 4 x 0 nos Estados Unidos. Agora disputaremos a grande final contra a Alemanha. E não foi um jogo normal. Marta, a melhor jogadora do mundo, só faltou fazer chover. Fez gol de pé esquerdo, de pé direito, sambou na frente da adversária, deu passes lindos e pra coroar fez uma pintura. O último gol do Brasil foi gol de Pelé, não melhor foi gol de Marta! Indescritível, só vendo. É um daqueles pra se admirar por muito tempo, e nunca esquecer.


Podia ser uma notícia normal, um fato corriqueiro, afinal não somos o país do futebol? Sim, mas do futebol masculino, do vôlei masculino, do basquete masculino, da política masculina, do jornalismo masculino, da televisão masculina, do empresariado masculino e por aí vai. Emoções do futebol como as de hoje tem que ser ainda mais comemoradas, já que as mulheres não têm incentivos, ganham mal, tem na maioria das vezes que conciliar outro trabalho e sequer tem um campeonato nacional. São verdadeiras guerreiras, heroínas. Aliás um perfil da mulher brasileira. Então que nos orgulhemos do futebol feminino, mas que esse orgulho sirva (infelizmente) para expor, ainda mais, o caráter machista do brasileiro.


As mulheres são a maioria da população, ainda assim chegam a ganhar até 40% a menos (ainda mais se forem negras) do que os homens em um mesmo cargo. Tem restrições no mercado de trabalho. Sofrem preconceito da hora que acordam a hora que vão dormir, do carro, passando pelo fogão e pela piadinha sem graça e ofensiva do patrão. Não são reconhecidas como chefes de famílias, não são reconhecidas como mães. Aliás, a sociedade as impõe que mesmo sem sua vontade ou sem ter condições, que sejam mães.

A legalização do aborto talvez seja uma das maiores bandeiras feministas. Ser a favor da legalização, da descriminalização, não significa ser a favor do aborto. Significa compreender este fato como uma questão de saúde pública, de saúde da mulher, sem discursos moralistas e religiosos. Ignorar isso é ser complacente com as milhares de mortes decorridas de operações clandestinas, de “profissionais” incapazes. O aborto é uma realidade brasileira há muito tempo. Mas quem são as mulheres que morrem em mesas de clínicas ocultas? Não precisa nem pensar muito, evidentemente as pobres. Porque as ricas têm totais condições de pagar um excelente hospital particular na zona sul, aonde as leis não chegam como nos demais lugares. Por isso certamente o descaso e a cumplicidade com o problema.


Além de direitos as mulheres brasileiras exigem respeito. Respeito que com uma luta de muitos anos elas tentam alcançar. Respeito que algumas poucas, por atitudes individuais, conseguiram. Mas isso não basta. Enquanto o orgulho for só por uma seleção de futebol ou por uma ginasta olímpica a conscientização do papel da mulher da sociedade não será revisto. Que estas apareçam muito mais, rompam com paradigmas, quebrem estruturas e façam valer sua voz. Eu queria a Marta no meu time, mas queria também mais mulheres no parlamento, mais mulheres nos ministérios, uma chefe mulher e quiçá, logo logo, uma mulher na Presidência da República.

6 comentários:

N. Real disse...

Esqueceu de homenagear as mulheres Cartolas do futebol, que há duas rodadas permanecem no topo!

E tô pensando em me candidatar Presidente...

depois tenho que te contar um segredo!

Abraço.

nilo disse...

Sua sutileza é cômica.
Mas acho que tá na preleção é ser telhado de vidro, e ainda tem muito tempo pras pedras de estilingue.

Parabéns para as mulheres, e que venham as alemãs!

Sávio disse...

Esse ultimo comentario foi pra Natália ou pra mim?

N. Real disse...

também não entendi.
ele fala muito difícil... daqui a pouco vou ter que usar dicionário pra ler esse blog!

Jayme Neto disse...

É certo de que temos que nos render ao talento das mulheres brasileiras em todos os quesitos. E mesmo que não ganhe a final contra a Alemanha, as jogadroas da seleção feminina já mostraram que possuem mais honra e respeito aos torcedores do que a seleção Masculina. Tanto que grande parte dessas jogadoras enfrentam uma vida muito difícil, sejam problemas econômicos ou relacionados ao preconceito.


Venho através deste post deixar minha homenagem às jogadoras Brasileiras...

Anônimo disse...

Realmente foi um jogo lindo! Principalmente para calar a boca de alguns homens que sempre dizem "mulher não entende de futebol".
O que me deixa indginada é ver no Jornal Hoje um comentário do tipo, "O futebol feminino ainda dá espaço para esse tipo de jogada porque a marcação não é muito em cima".
Da um tempo. Justificar o talento da atleta falando que futebol feminino é mais fácil foi de mais!

Parabéns Sávio, ótimo texto!