quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Preto no branco


Nesta quarta, dia 12, o debate sobre as políticas de ações afirmativas no acesso ao ensino superior enfim chega à Universidade Federal de Viçosa. Promovido pela seção sindical dos docentes (ASPUV) e pelo diretório central dos estudantes (DCE), o Seminário “Cotas Raciais e Sociais – Preconceito ou Inclusão?” é a primeira reflexão pública na UFV, salvo engano, a respeito do tema que, depois de causar burburinhos na grande mídia e depois de ganhar espaço e aplicação em grande parte das universidades públicas (segundo site da própria ASPUV nosso ministro teria informado que 40 escolas federais já adotam alguma medida), chega a esse pólo educacional tão avançado nas áreas que lhe convém. O que dizer?

Certo é que a iniciativa deve ser parabenizada. A existência de graves divergências sobre um tema, no caso mesmo no interior dos movimentos sindical e estudantil, nunca foi justificativa (embora por vezes, motivo) para se fugir do debate, antes o contrário.

As políticas de ações afirmativas não são nenhuma invenção do Brasil, muito menos do governo Lula. Não são também novidade no acesso ao ensino universitário, embora não seja essa sua única aplicação. Em nosso país elas são aplicadas há tempos em favor das mulheres, em favor dos portadores de necessidades especiais e também em favor dos negros.

São políticas que partem do princípio que os segmentos da sociedade, que no decorrer da história, por discriminações negativas, foram levados a situações desvantajosas de competição, têm direito a medidas de favorecimento, visando a situação de igualdade.

É o que defende o movimento negro brasileiro para conseguir trazer (ele, não o governo Lula) essa discussão ao pé onde ela se encontra. O movimento, que se preocupa com a questão da raça, exige da sociedade brasileira combate às desigualdades entre os diferentes.

E quando essa questão vem à tona, ganha espaço na impressa e no senso comum, o que acontece? É deslocada com naturalidade para a questão da renda. Há um equívoco grandioso em encobrir o problema da raça, que existe sim no Brasil, pelo problema da renda, que também não deve ser esquecido.

O trajeto fácil encontrado para se evitar esta grande ferida mal estancada do país foi o seguinte: 1) não se deve discutir cotas para negros, e sim para pobres (diz-se estudantes de escolas públicas); 2) não se deve discutir cotas para escola pública, e sim melhorar o ensino de base. E continuamos como e onde estávamos!

A desigualdade racial é um problema grande o suficiente para merecer medidas próprias de combate. E é também um problema grave o suficiente para exigir medidas emergenciais. Daí a necessidade de reserva de vagas nas universidades públicas para os negros.

Um dos males que se visa atingir com o combate as desigualdades raciais no Brasil é o preconceito de cor. E é impossível destruí-lo só teoricamente. O preconceito só se desfaz com inclusão. É impossível educar, ou reeducar, uma pessoa a aceitar e respeitar um negro, um deficiente ou um homossexual (para ficar só com alguns dos grupos sociais que não recebem o respeito que merecem), se não há convívio. Alunos negros nas salas de aula é um pequeno passo nessa direção, um segundo, um pouco maior, são os profissionais de alta qualificação negros inseridos no mercado de trabalho.

Ao tirar esses grupos dos respectivos “guetos” a que estão destinados, quem ganha é a sociedade como um todo. Ganha porque passa a ser menos intolerante, quesito que jugo ser uma bela meta a se seguir.

Tema inesgotável, polêmica semeada, continuamos em uma próxima oportunidade.

Um comentário:

Sávio disse...

Além de mascarar o verdadeiro problema das raças no país o argumento que as cotas são viáveis somente para alunos de escola pública não corrige um erro histórico no Brasil. Pela exploração que sofreram e o fardo que seus descendentes carregam até hoje negros e índios tem sim que ter cotas especiais. Foram eles que construíram este país para os brancos, nunca tendo oportunidade de usufruir dos frutos de seu trabalho. Lembro também que o preconceito não se manifesta somente de um agente externo, a opressão, e principalmente a opressão interna é um fato real que faz estes pessoas sentirem-se excluídos pelo simples fato de serem negros ou índios. Dentro da própria escola pública o negro é descriminado. Somente a elevação da auto-estima pode fazer que, em um processo longo, eles se dem o verdadeiro valor. Para isso é preciso ocupar os lugares onde nunca tiveram acesso, então que comecemos pelas Universidades públicas, para posteriormente alcançar o mercado de trabalho. Preconceito se combate com política e com conscientização social.